Mutley, o Ministério do Esporte e as Medalhas
“[...]Medalhinhas para
o Presidente
Condecorações aos
veteranos
Bonificações para os
Bancários
Congratulações para os
banqueiros[...]”
Porrada, Titãs (1986)
Ao me deparar com o novo (?)
Programa do Governo Federal “Plano Brasil Medalhas”, com vistas aos Jogos Rio
2016, inevitáveis as lembranças do Mutley, aquele cachorro perdigueiro,
inicialmente assistente do arquivilão Dick Vigarista, depois com a fama conquistada,
protagonista de seu próprio.
Na condição de auxiliar do Dick
Vigarista, toda e qualquer ação e/ou omissão do Mutley nos mirabolantes planos
do seu chefe, eram mediados por seu inesquecível bordão: “Medalha, Medalha,
Medalha!”
Passados quarenta anos, após uma
fase áurea no esporte, na perspectiva do golpe cívico-miltar, e seis eleições
para presidência república, o Governo Brasileiro, reconhecido
internacionalmente ao longo da última década por suas políticas sociais,
naquelas que tem como protagonista o Ministério do Esporte, anuncia
investimentos estimados em 1 Bilhão para o próximo Ciclo Olímpico até 2016.
Tais recursos são associados às
expectativas do quantitativo de medalhas tanto nas Olimpíadas, quanto nas
Paralimpíadas[1].
Contraditoriamente, o Programa
Esporte e Lazer da Cidade, criado em 2003
como sua política de acesso e fruição ao esporte e lazer, foi esvaziado progressivamente,
esgotamento este materializado pelo pífio orçamento em 2012, com recursos para
custeio que decresceram dos R$ 6.298.140,40 no seu ano inicial em 2004, para os
atuais R$ 2.857.252,00.
A indagação que se impõe está
vinculada ao processo de formação humana: deve o poder público estabelecer como
parâmetro societário de emancipação, desenvolvimento humano e inserção
internacional, o número de medalhas obtidas em uma Olimpíada ?
Este caminho escolhido pelo
Governo Federal, não acena sinais que elevem a qualidade de vida da população,
mas desvelam a impossibilidade estrutural de se ter esta vertente do esporte
como modelo, ainda que vinculado pontualmente a Copa de 2014, ou as Olimpíadas
de 2016.
Seriam precisos mais de 300 anos
para que tivéssemos um tratamento isonômico entre as dimensões previstas não só
na legislação, mas fundamentalmente no dia a dia desta prática social que
encanta e faz parte da vida de milhares de crianças, jovens, adolescentes,
adultos, idosos, pessoas com necessidades educacionais especiais, enfim homens
e mulheres em Citius, Altius, Fortius:
Mais Rápido se impõem novas sínteses
das mediações do esporte e do lazer na perspectiva da emancipação humana; Mais Longe /Alto enfatizar que os
nossos sonhos de uma sociedade justa, fraterna e solidária não envelhecem; Mais Forte temos que anunciar nossas convicções
e fortalecermos as práticas vinculadas a um projeto societário democrático e
popular.
Roberto Liáo Junior
Professor da SEDF/Doutorando em Ed.Fisica pela UNICAMP
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