domingo, 4 de janeiro de 2015

GDF corta 400 coordenadores e começa muito mal

Portaria de distribuição de turmas traz prejuízos para a rede de ensino pública


A Portaria nº 284, publicada na Edição Extra nº 275 do DODF dessa quarta-feira, que trata da forma como as turmas serão distribuídas a partir de 2015 traz um dos maiores retrocesso na luta da categoria docente do Distrito Federal. A Diretoria do Sinpro estima que, com essa portaria, a rede pública de ensino vai perder, este ano, cerca de 400 coordenadores pedagógicos. E mais, não terá nenhum coordenador até que o primeiro bimestre termine
É a primeira vez, desde 2007, quando o Sinpro passou a integrar as comissões do Governo do Distrito Federal (GDF) de elaboração de portarias e outras leis destinadas à docência, que o conteúdo de uma portaria discutido com o Sindicato dos Professores é alterado à revelia dos representantes da categoria e publicado de forma unilateral. As modificações foram efetuadas sem nenhuma explicação ou comunicado ao Sindicato que justificassem os motivos da modificação. O Sinpro participa da comissão que elabora as portarias desde 2007. O texto anterior havia sido resultado de várias discussões entre o Sinpro e a Secretaria de Educação foi modificado.
O artigo 26, parágrafo 1º, incisos I, II, III e IV foram modificados pela equipe do gabinete do Secretário de Educação do antigo governo diminuem significativamente o número de coordenadores pedagógicos em várias escolas e também o artigo 22 deixa claro que os coordenadores somente serão liberados após o término do primeiro bimestre. Esses dois artigos desarticulam todo o trabalho pedagógico da rede.
Embora tenha sido publicado no último dia do ano de 2014, ainda no mandato do governo anterior, declarações de representantes do atual gabinete da Secretaria de Educação em matéria publicada na página 16 do Correio Braziliense do dia 29 de dezembro levam a crer que essa ação foi articulada com os membros do governo passado e os do atual gabinete, uma vez que o próprio secretário Júlio Gregrório disse, na matéria, que “à medida que formos organizando as redes, os coordenadores poderão voltar aos cargos gradativamente”.
Conquista da categoria – Polyelton de Oliveira Lima, secretário de Políticas Sociais do Sinpro lembra que “a coordenação é uma conquista da categoria e o papel do coordenador é imprescindível para a elaboração das ações pedagógicas. Ao ser escolhido pelo grupo de docentes, o coordenador deve organizar a rotina pedagógica da escola, associando as necessidades da comunidade escolar e as estratégias para melhor aproveitar as capacidades e habilidades dos professores, visando o bom desempenho dos alunos. Desse modo, as funções desenvolvidas pelo coordenador são extremamente relevantes para o bom andamento da escola, cabendo a ele o planejamento, a orientação, o acompanhamento e a supervisão das atividades pedagógicas, além de trabalhar com a intermediação dos conflitos e a proposição de estratégias que contribuam com a comunidade”.
O secretário diz que, na organização das estratégias da escola, o PPP prevê a interdisciplinaridade como prática reflexiva e de leitura de mundo. Ora, como desenvolver atividades integradas sem o planejamento das atividades pedagógicas? Em uma visão reducionista, lugar de professor é na sala de aula. No entanto, não há um bom aproveitamento pedagógico sem não existir a participação prévia do coordenador. Portanto, ele é imprescindível para o planejamento das ações pedagógicas e a articulação integrada das ações.
Por mais que os professores e orientadores estejam em contato direto com os alunos, eles não conseguem, sozinhos, articular ações que visem a interdisciplinaridade. Nesse sentido, é o coordenador que reúne as informações, os dados e as sugestões que darão suporte aos professores no desenvolvimento de suas atividades, proporcionando, por conseguinte, um melhor aproveitamento dos alunos.
Até 1995, o coordenador não era dispensado da regência de classe, o que o obrigava a acumular as duas funções. Só a partir de 1997 que o coordenador passou a atuar as 40 horas exclusivamente nessa função, possibilitando a otimização do tempo de planejamento e da formação dos docentes (um bom exemplo foi a participação dos coordenadores na execução do PNEM). As escolas conquistaram as coordenações e esses espaços foram ampliados nos últimos anos. Será que retroceder é a melhor alternativa?
Contrariando o que foi construído ao longo dos últimos 17 anos, essa função corre o risco de não existir em 2015. Será que a equipe gestora conseguirá assumir sozinha essa responsabilidade ou os professores desenvolverão ações isoladas nas salas de aula? Como fica a proposta de construção de indivíduos engajados em um mundo plural e dinâmico? Tudo bem que o ano letivo deve ser garantido com os professores em sala de aula, mas a função do coordenador é inquestionável.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

FUTEBOL, DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO

Clubes de futebol em todo mundo são usados para lavagem de dinheiro do tráfico de drogas

Querétaro, clube de Ronaldinho, foi usado para lavar dinheiro de drogas 

 Agência Estado
Reprodução
Do México à Sérvia, da Colômbia à Bulgária, autoridades e polícias revelam uma realidade sombria do futebol: a transformação de clubes em instrumentos para a lavagem do dinheiro obtido com o tráfico de drogas. Documentos obtidos pela reportagem a partir de investigações na Europa e nos Estados Unidos apontam que organizações criminosas e cartéis têm se usado do esporte como um mecanismo para legitimar a renda ilegal.

Em novembro, a Justiça norte-americana colocou o presidente de um clube da primeira divisão da Colômbia, o Envigado, na lista das pessoas procuradas por fazer parte de cartéis da droga. Segundo os documentos, o clube era usado pelo dirigente para lavar o lucro do narcotráfico. Foi no Envigado que James Rodríguez, artilheiro da Copa do Mundo do Brasil, foi revelado em 2007, com apenas 15 anos.

Em 2011, a Justiça da Colômbia revelou como US$ 1,5 bilhão do narcotráfico haviam sido lavados por vários clubes, entre eles o Independiente Santa Fe, de Bogotá.

A história do futebol colombiano se confunde com o fortalecimento dos cartéis, principalmente a partir dos anos 80. Na época, o chefe do Cartel de Medellín, Pablo Escobar, investiu milhões no Atlético Nacional. No final daquela década, o time venceria a Copa Libertadores.

O problema também é comum no México. Em fevereiro do ano passado o cartola Tirsco Martinez foi preso em sua casa em León, usando outro nome. As autoridades norte-americanas chegaram a oferecer US$ 5 milhões para quem desse pistas do paradeiro do traficante. Segundo a investigação, entre 2000 e 2003, Martinez “importou, transportou e distribuiu cerca de 76 toneladas de cocaína no mercado norte-americano”.

Mas ele também era o responsável por “organizar a lavagem e envio de milhões de dólares das drogas ao México. Para isso, ele usava três clubes: Atletico Celaya, o Irapuato FC e o Querétaro, time que contratou Ronaldinho Gaúcho.

Em 2004, a Federação Mexicana tentou limpar o esporte e dissolveu o Querétaro e o Irapuato. Outros clubes que estariam sendo usados pelo narcotráfico, segundo a investigação, são Necaxa, Santos Laguna, Puebla e Salamanca.

ASSASSINATOS

Mas o envolvimento da droga no futebol não se limita à América Latina. Em 2012, uma operação na Itália contra a Máfia revelou que times de divisões inferiores eram usados para lavar dinheiro. A Ndrangheta, máfia que atua na Calábria, teria usado dois clubes da região de Salerno, no sul da Itália - o Cittanova Interpiana e o Sapri Calcio - para transferir seus recursos da droga. Os times, das divisões inferiores, tiveram todos seus recursos confiscados e tentam recomeçar do zero.

No ano passado, quando a polícia italiana fechou o cerco contra um dos chefes da Máfia, Francesco Pesce, descobriram que ele também controlava o time do Rosarnese e que acabou ficando sem “patrocinador”. “Chefes da máfia são executivos de clubes, influenciam o esporte e usam o futebol”, declarou Pierpaoli Romani, autor do livro Calcio Criminale.

Segundo ele, a Máfia está interessada principalmente nos clubes italianos da Série C e D, onde a visibilidade é menor em termos da imprensa nacional. Mas, ainda assim, garante um ingresso a um mundo legalizado. Romani, porém, conta como a Lazio e o Palermo foram alvos de uma tentativa da Máfia de entrar na primeira divisão.

No Leste da Europa, nos anos 90, em plena guerra nos Bálcãs, paramilitares sérvios usavam o futebol para lavar dinheiro da droga. O que as investigações hoje apontam é que o fenômeno ainda perdura e atinge toda a região. Clubes da Albânia, Montenegro e Bósnia-Herzegovina têm sido alvo de frequentes investigações.

Na Bulgária, 15 cartolas da primeira divisão foram assassinados em 10 anos, muitos deles em acertos de contas por disputas do controle do tráfico. Na Ucrânia, as autoridades apontam que dois clubes servem de base como “sede de gangues do crime organizado”. Um deles é o Zakarpattya que, em uma ação da polícia, encontrou 36 homens armados dentro da dependência do clube e relacionados com o tráfico de drogas.

Um documento da Financial Action Task Force, entidade ligada à OCDE em Paris, confirma a suspeita das polícias: “o futebol é usado como veículo para perpetuar outras atividades criminais”, entre elas o comércio ilegal de drogas.

Segundo o estudo, a falta de controle sobre clubes, a falta de exigência de resultados, a falta de transparência e o dinheiro movimentado pelas equipes são elementos fundamentais para entender os motivos pelos quais cartéis escolheram o futebol para lavar dinheiro.

Mas o futebol não seria apenas usado por traficantes para fins financeiros. Para muitos, se transformar em cartola seria também um meio de entrada na sociedade de forma legítima. "O esporte pode ser um caminho para que criminosos se transformem em celebridades ao associar com pessoas famosas e entrando em círculos poderosos dentro da sociedade estabelecida”, indicou a OCDE. Um ingresso à sociedade com um elevado preço para o futebol e, principalmente, para a guerra contra as drogas.