Copa: custo geral dos
estádios está 30% mais alto que previsão de 2010
Levantamento compara dados divulgados pelo governo
nos últimos 3 anos com números atualizados das cidades-sedes: soma chega a R$
7,1 bilhões
Por Fabrício MarquesBrasília
Fora do projeto inicial, Arena
Corinthians ocupa lugar que seria do Morumbi (Foto: Alexandre Lozetti)
Em janeiro de
2010, o governo federal e representantes das 12 sedes da Copa do Mundo de 2014
deram o primeiro passo efetivo no planejamento para a realização do torneio com
a assinatura da Matriz de Responsabilidades - um documento com a previsão de
projetos prioritários, entre eles, a construção ou reforma dos estádios. Cada
cidade apresentou seu plano, com estimativas de custos e prazos para conclusão
das obras. Entre janeiro de 2011 e dezembro de 2012, o governo publicou ainda
quatro balanços com atualizações. Pouco mais de três anos depois dos primeiros
números, o GLOBOESPORTE.COM fez um levantamento comparativo para checar quais
arenas tiveram os planos e prazos cumpridos(confira a tabela com todos os dados no final do
texto).
Na Matriz de
Responsabilidades da Copa em 2010, a previsão era de que os 12 estádios
construídos ou reformados para 2014 custariam, ao todo, aproximadamente R$ 5,4
bilhões. Essa estimativa se mostrou incorreta: os custos estão 30% mais caros -
chegando a R$ 7,1 bilhões, segundo estimativas de abril, passadas pelas
próprias cidades-sedes. O secretário-executivo do Ministério dos Esportes (e
representante do governo federal no Comitê Organizador da Copa - COL), Luis
Fernandes, não considerou a diferença preocupante.
- Sinceramente,
não acho que seja um aumento muito significativo. Quando a primeira versão da
Matriz foi elaborada, nem todos os projetos estavam completos. Foi lançada uma
estimativa dos custos antes da consolidação dos projetos. Um exemplo é o caso
de São Paulo, onde estava prevista em 2010 a reforma do Morumbi e depois o
projeto mudou para a construção de um novo estádio. Evidentemente, o custo
subiu. A Copa do Mundo é uma oportunidade para grandes investimentos na
infraestrutura do país, inclusive em equipamentos esportivos, como é o caso dos
estádios, que ficarão como um importante legado - disse.
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Outro fator que
mudou bastante em relação às projeções de janeiro de 2010 foi o prazo de
entrega das obras. Na assinatura da Matriz, todos os estádios deveriam ser
entregues até dezembro de 2012. Cronograma que só foi cumprido nas reformas de
dois equipamentos: o Castelão, em Fortaleza, e o Mineirão, em Belo Horizonte,
inaugurados no final do ano passado. O terceiro estádio pronto é a Fonte Nova,
em Salvador, utilizada no último domingo com o clássico entre Vitória e Bahia.
- Com relação
aos prazos, entram fatores de outra natureza - acrescentou Luis Fernandes
- É preciso entender a complexidade das obras. Houve problemas na gestão
dessas complexidades que acabaram determinando os atrasos. Seria muito
importante que todos tivessem sido entregues no prazo. Agora temos que pensar
que é importante que os outros seis estádios da Copa sejam finalizados até
dezembro.
A principal
preocupação está com os três estádios da Copa das Confederações que só deverão
ser finalizados até o final deste mês: Arena Pernambuco, no Recife, Mané
Garrincha, em Brasília, e Maracanã, no Rio de Janeiro. Apesar dos atrasos, o
secretário garantiu que não haverá problemas para a realização do evento, que
começa no dia 15 de junho com Brasil x Japão na capital federal.
- Os atrasos
tornam o desafio maior. Mas não preocupa tanto, porque todos terão os
eventos-teste. O problema é que será preciso realizar várias ações
concomitantes. Não é o ideal, mas também não prejudicará a Copa das
Confederações.
Arena Fonte Nova é o último estádio de
2014 inaugurado para Copa das Confederações (Foto: AFP)
Demora na definição dos projetos
Na opinião do
engenheiro José Roberto Bernasconi, membro do Sindicato Nacional das Empresas
de Arquitetura e Engenharia, alterações em custos e prazos de obras complexas
como a construção de estádios é comum e só será possível avaliar se houve
exageros após uma análise detalhada de cada projeto.
- Toda obra
está sujeita a algumas intercorrências, como questões climáticas, greves, aumento
nos custos de mão de obra, aumento nos preços unitários de alguns itens... São
muitos fatores e, enquanto não forem divulgados os mínimos detalhes de cada
projeto, é difícil dizer se os aumentos estão ou não dentro do limite do
aceitável.
No entanto,
para o especialista, pelo menos um problema é fácil de identificar nos
preparativos do Brasil para o Mundial de 2014: a demora para a definição dos
projetos.
- O Brasil foi
anunciado como sede da Copa no dia 30 de outubro de 2007. Em 2008 só se fez
discurso, assim como em 2009. Deixamos o tempo passar. Em 2010 alguns projetos
estavam em andamento e uma ou outra obra começou. Só aceleramos mesmo em 2011 e
2012. E uma das principais causa de problemas e perda de controle de custos é
trabalhar com prazos apertados - afirmou o especialista, que lembrou que o
anúncio das cidades-sedes só foi feito pela Fifa em maio de 2009, mas que
algumas sempre foram consideradas certas no Mundial, como Rio de Janeiro, Belo
Horizonte e Brasília.
Números diferentes
Arena da Baixada: números do Atlético-PR não batem com os do governo (Foto:
Divulgação)
Chama a atenção
o fato de que, em alguns casos, os valores estimados pelas cidades-sedes para
as obras dos estádios não são os mesmos divulgados pelo Ministério do Esporte
no último Balanço da Copa, em dezembro de 2012. Há variações para mais e para
menos e diferentes explicações.
Um exemplo está
nas estimativas da Arena da Baixada. De acordo com os dados do ministério, a
reforma do estádio custará R$ 234 milhões. No entanto, o Atlético-PR informou
que a estimativa é de que, com os descontos fiscais concedidos pelo Recopa
(programa de isenção fiscal para as obras dos estádios do Mundial), sejam
gastos somente R$ 184 milhões (mesma previsão de janeiro de 2010).
Já no caso da
Fonte Nova, os números do Ministério do Esporte indicam um custo de R$ 591,7
milhões. No entanto, o governo baiano informou que mudanças exigidas pela Fifa
após a assinatura do contrato acabaram gerando um custo adicional de R$ 97,7
milhões, oficializado em janeiro deste ano. Entre as modificações estão
mudanças no padrão dos assentos e do gramado, além de inovações na área de
Tecnologia de Informação e instalações elétricas. Sendo assim, o valor final da
obra foi estimado em R$ 689,4 milhões.
Os mais caros: Mané Garrincha e Maracanã
Não por acaso,
os dois maiores estádios da Copa também serão os mais caros: Maracanã (79 mil
pessoas) e Mané Garrincha (72 mil pessoas). As duas obras também estão entre as
que mais aumentaram os custos entre 2010 e 2013.
Estimada
inicialmente em R$ 600 milhões, a reforma do Maracanã já teve um crescimento
nos gastos de 43%, passando para R$ 859,9 milhões, segundo os responsáveis pela
obra. É o terceiro estádio com maior aumento proporcional e o segundo em
valores brutos - crescimento de R$ 259,9 milhões. Gastos que poderão ser ainda
maiores. O último balanço divulgado pelo Ministério do Esporte, em dezembro de
2012, já estimava o custo em R$ 882,9 milhões, número ainda não oficializado
pelo governo local.
ESTÁDIOS NOVOS
|
PREVISÃO DE
CUSTO (R$) |
CAPACIDADE*
|
CUSTO/
CAPACIDADE (R$) |
Mané Garrincha
(DF)
|
1 bilhão
|
72 mil
|
13,8 mil
|
Arena Amazônia
(AM)
|
583,4 milhões
|
44 mil
|
13,2 mil
|
Fonte Nova (BA)
|
689,4 milhões
|
55 mil
|
12,5 mil
|
Arena Corinthians
(SP)
|
820 milhões
|
67 mil
|
12,2 mil
|
Arena Pantanal
(MT)
|
518,9 milhões
|
44 mil
|
11,7 mil
|
Arena Pernambuco
(PE)
|
532 milhões
|
46 mil
|
11,5 mil
|
Arena das Dunas
(RN)
|
400 milhões
|
42 mil
|
9,5 mil
|
ESTÁDIOS REFORMADOS
|
|||
Mineirão (MG)
|
695 milhões
|
62 mil
|
11,2 mil
|
Maracanã (RJ)
|
859,9 milhões
|
79 mil
|
10,8 mil
|
Castelão (CE)
|
518,6 milhões
|
64 mil
|
8,1 mil
|
Beira-Rio (RS)
|
330 milhões
|
50 mil
|
6,6 mil
|
Arena da Baixada
(PR)
|
184,6 milhões
|
43 mil
|
4,2 mil
|
*foi usada como referência a
capacidade dos estádios informada no último
Balanço da Copa divulgado pelo governo federal |
O prazo para a
conclusão do palco das finais da Copa das Confederações e do Mundial também foi
alterado duas vezes no período entre 2010 e 2013. Inicialmente previsto para
ficar pronto em dezembro de 2012, a data de entrega passou para fevereiro de
2013 no 3º Balanço da Copa, divulgado pelo governo federal em abril do ano
passado. Em dezembro, no 4º balanço, a data de entrega foi adiada em mais dois
meses, passando para abril de 2013 (o primeiro evento-teste está marcado para o
próximo dia 27, com uma partida entre amigos de Ronaldo e Bebeto. No momento, a
arena carioca está 95% pronta).
- No caso do
Maracanã, o conceito inicial era de manter a cobertura original, fazendo apenas
adaptações. Só depois foi feita a avaliação técnica de que isso poderia não dar
a garantia de sustentação necessária, e foi preciso mudar o projeto, exigindo a
demolição da marquise. Quando os custos foram estimados em 2010, esse gasto não
estava previsto - justificou o secretário do Ministério do Esporte Luis
Fernandes.
Sobre o Mané Garrincha,
o crescimento nos custos entre 2010 e 2013 foi de 34%, passando de R$ 745,3
milhões para R$ 1 bilhão (aumento de R$ 254,7 milhões). Gasto que, segundo o
Tribunal de Contas do Distrito Federal, deverá ser maior: o último balanço
divulgado pelo órgão estima as obras do Mané Garrincha em R$ 1,2 bilhão.
- Quando foi
apresentado, havia apenas o custo do projeto básico. Hoje, atingiu esse nível
porque o projeto inicial não constava a cobertura, por exemplo, e toda a
tecnologia que foi incluída depois. Além disso, no projeto original seria
aproveitado um quarto de arquibancada, o que não foi possível. Não é reforma.
Estamos fazendo um estádio completamente novo, que custará cerca de R$ 1 bilhão
com a isenção fiscal do Recopa - explicou o secretário extraordinário da Copa
no Distrito Federal, Cláudio Monteiro.
Mané Garrincha deverá ser o estádio
mais caro para a Copa do Mundo no Brasil (Foto: Reuters)
A entrega do
Mané Garrincha também atrasou. Previsto inicialmente para dezembro de 2012, o
prazo passou para julho de 2013 no 1º Balanço da Copa divulgado em 2011. No
entanto, com a escolha do estádio para a abertura da Copa das Confederações, a
previsão de entrega retornou para dezembro de 2012 e depois foi adiada para
abril deste ano (a cerimônia de abertura será no próximo dia 21 e o primeiro
evento-teste está marcado para 18 de maio, com a segunda partida da final do
Campeonato Brasiliense).
- Podíamos estar
fazendo esse estádio para entregar em dezembro, para a Copa do Mundo, com
tranquilidade. Mas houve uma decisão de antecipar o cronograma em oito meses e
inserir a cidade na Copa das Confederações. Mais ainda, a cidade receberá a
abertura da competição, sendo assistida por milhões e milhões de
telespectadores do mundo todo, um ano antes. Foi uma decisão acertada -
defendeu Cláudio Monteiro.
Beira-Rio: aumento de 153%
Apesar de ser a
segunda obra mais barata, a reforma do Beira-Rio é foi a que apresentou o maior
aumento proporcional nos gastos. O crescimento entre o valor previsto em 2010 e
o custo atual da obra foi de 153%, passando de R$ 130 milhões para R$ 330
milhões (aumento de R$ 200 milhões.
Segundo os
responsáveis pela obra, o aumento foi provocado por uma troca no modelo de
construção. Inicialmente, o Internacional ficaria responsável pela reforma. No
entanto, em 2011, foi firmado uma parceria com um consórcio que alterou
substancialmente o projeto e incluiu novos itens, como um edifício-garagem para
três mil veículos.
- Chegamos a
conclusão de que seria necessário firmar uma parceria para fazer a obra.
Acertamos com uma um consórcio, que assumiu parte dos custos, e os valores se
modificaram. Naturalmente, houve alterações no projeto - explicou o presidente
da Comissão de obras do Internacional, Maximiliano Carlomagno.
O caso de São Paulo: Morumbi x Arena Corinthians
A cidade de São
Paulo foi a única em que houve uma troca no estádio previsto para a Copa.
Inicialmente, o palco do Mundial na capital paulista seria o Morumbi, com
reforma estimada em R$ 210 milhões. No entanto, em 2011 foi definido que um
novo estádio seria construído - a Arena Corinthians - para receber a abertura
da Copa.
A primeira
estimativa de custo do novo estádio divulgada pelo governo federal apareceu no
2º Balanço da Copa, em setembro de 2011. A previsão de R$ 820 milhões não mudou
desde então.
Redução de custos: Castelão
Pronto em dezembro, Castelão foi sede
de clássico entre Ceará e Fortaleza (Foto: Kid
Júnior/Ag Diário)
Entre os 12
estádios da Copa, apenas um apresentou redução nos custos previstos entre 2010
e 2013 até o momento: o Castelão, em Fortaleza. A economia de R$ 104 milhões em
comparação com a estimativa inicial foi confirmada pelo governo local ao fim da
obra. Previsto para custar R$ 623 milhões em 2010, a reforma do estádio foi
concluída a um custo de R$ 518,6 milhões - redução de 16,7%.
- O Governo do
Estado optou pelo modelo de parceria público-privada (PPP) para a contratação
do consórcio construtor que ficou responsável pela obra. Durante o processo de
licitação, venceu a proposta que se adequava ao projeto e tinha o valor mais
baixo. Daí conseguimos a redução dos custos - explicou o secretário especial da
Copa 2014 no Ceará, Ferruccio Feitosa.
Outros estádios
também utilizaram o modelo de PPP, mas não conseguiram redução nos valores,
como é o caso da Arena Pernambuco. Estimada inicialmente para custar R$ 529,5
milhões, a obra já está orçada em R$ 532 milhões, segundo o governo local, e
poderá aumentar ainda mais por conta de medidas que foram tomadas para acelerar
a construção e permitir a entrega a tempo da Copa das Confederações. O valor
final ainda não foi calculado.
No prazo: Castelão e Mineirão
Além de ser o
único projeto com redução nos custos, o Castelão também foi, ao lado do
Mineirão, um dos estádios entregues dentro do prazo previsto - dezembro de
2012.
- Uma decisão
que foi essencial para a agilidade do processo foi levar toda a equipe da então
Secretaria do Esporte (assim que o contrato foi assinado com o Consórcio
Construtor e antes mesmo de ser criada a Secopa) para dentro do canteiro da
obra, para que pudéssemos acompanhar mais de perto a execução - detalhou o
secretário da Copa no Ceará, Ferruccio Feitosa.
Já a Secretaria
Extraordinária da Copa em Minas Gerais (Secopa-MG) informou por meio da
assessoria de imprensa que um dos fatores que possibilitou o cumprimento do
prazo foi a adoção de um modelo de gestão compartilhada entre o governo local e
um parceiro privado (Minas Arena), que ficou responsável pela administração do
estádio após a conclusão.
Comparações
Para Luis Fernandes, aumento dos custos
dos 12 estádios não é significativo (Foto: Ivo Lima)
Na opinião do
secretário executivo do Ministério do Esporte, Luis Fernandes, não é justo
comparar os custos e os prazos de entrega dos 12 estádios da Copa. Para ele,
são projetos bastante específicos, com características próprias que precisam
ser consideradas em qualquer avaliação.
- São projetos
diferentes. Cada um com uma complexidade diferente. Alguns tratam apenas de
reformas, como é o caso do Castelão e do Mineirão. Não dá para comparar o grau
de complexidade do Castelão com o Maracanã, por exemplo.
Segundo o
secretário, as evoluções nos custos e alterações no prazos de entrega decorrem
justamente dessas especificidades, que precisam ser consideradas
individualmente.
- É complicado
comparar diretamente o porque um conseguiu diminuir o valor e outro não. Os
primeiros valores previstos na Matriz estavam baseados em projetos que foram
bastante alterados, consolidados ao longo do tempo, e de acordo com as
necessidades de cada sede.
O engenheiro
José Roberto Bernasconi também avalia que é preciso considerar as
especificidades de cada obra. No entanto, para o especialista, separando
reformas de construções novas e utilizando o tamanho dos estádios como
parâmetro é possível fazer algumas comparações.
- Cada caso é
um caso. São situações de trabalho diferentes. Mas comparando o preço unitário
por assento, é possível perceber algumas diferenças importantes e traçar alguns
parâmetros para avaliação - defendeu o especialista.
Neste caso,
entre os novos estádios construídos para Copa, o Mané Garrincha é o que
apresenta o custo mais alto na divisão entre o valor estimado para a obra e a
capacidade: R$ 13,8 mil por assento. Já entre os estádios reformados, o custo
mais alto é do Mineirão, com R$ 11,2 mil por assento.
Custos estádios da Copa do Mundo 2014
(Foto: Infoesporte)
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