A farra dos jantares “padrão FIFA” na Copa do Mundo 2014
Por Simone Tourinho
Licenciada e Mestranda em Educação Física pela UnB
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4209247E7
Após 64 anos, o Brasil
sedia novamente uma Copa do Mundo de Futebol e o que se percebe nesta
cronologia é o desenvolvimento do Futebol para além do seu aspecto
eminentemente esportivo. O Futebol tornou-se um ótimo negócio, gerador de
receitas e despesas com impacto em vários setores envolvidos no espetáculo.
Não é espantoso, mas sim
revoltante, pensar nos abusos cometidos e na farra propiciada aos poucos que
desfrutam deste bom negócio. Hoje pela manhã, em Brasília, tive notícias de um
jantar financiado a uma equipe de Franceses, alguns, ganhadores da promoção de
uma das multinacionais patrocinadoras da Copa do Mundo 2014. Preço gasto em uma
noite: R$ 1.028,00 (um mil e 28 reais) em um dos luxuosos restaurantes da
Capital Federal. E saber disso me levou refletir um pouco acerca dos jantares
“padrão FIFA”. Imagine, se esse valor é gasto em uma noite com turistas
ganhadores de uma promoção qualquer qual será o valor de um jantar no âmbito
mais elevado da elite nacional e internacional? R$ 10.000 (dez mil)? R$ 100.000
(cem mil) em 10 (dez) noites? Ah! E penso apenas nos jantares!
Tenho consciência de que isto é
parte do sistema o qual nos inserimos. Basta ter um olhar que vá além da
simples aparência para perceber que o processo de decadência e desumanização do
mundo evolui a cada dia. A exploração do homem pelo homem não acabou, ao
contrário do que dizem alguns pós-modernos, ela apenas tem mudado
constantemente de forma e faces. A desigualdade social é nítida e atingir o
topo da pirâmide não é apenas uma questão de esforço individual.
Diante disso, creio a suspeitar
de onde surgem os recursos financeiros que garantem os jantares “padrão FIFA”,
entidade a qual as denúncias de corrupção atingem boa parte da sua cúpula.
Talvez tenham sido garantia de
uma economia com o pagamento de míseros salários de quem produziu a Brazuca, a
bola oficial da Copa 2014 com contrato da multinacional Adidas. Em sua maioria
mulheres, cerca de “1.800 trabalhadores que costuram a bola
da Copa recebem o salário mínimo no Paquistão,
que foi recentemente reajustado para 10.000 rúpias mensais, o equivalente a
cerca de R$ 220”. O jantar dos franceses ganhadores do prêmio em Brasília
pagaria aproximadamente os salários mensais de 4 (quatro) trabalhadoras no
subcontinente indiano. Olha aí a desumanização!
E este tipo de exploração é
normal para setores da sociedade que fazem declarações do tipo Sr. Sony que
afirma ser vantajoso ter a China como um concorrente a menos, tendo em vista o
aumento dos salários de trabalhadores. "Nós temos um competidor a menos.
Temos mais trabalho barato e nossos produtos são bons em preço." Isto não
é revoltante para você leitor? Acredito que elas “as costureiras da Brazuca”
mereciam mais! E mereciam um jantar “padrão FIFA” por tudo que fizeram para que
o grande evento ocorresse.
Ou talvez tenham sido garantia de
uma economia com a segurança e condições de trabalho para os operários
que deram sua vida, alguns literalmente, na construção e reforma dos 12
estádios da Copa do Mundo 2014. Sem falar nos baixos
salários! Será que estes operários tiveram jantar “padrão FIFA”?
Aqui estão os que merecem o
título de heróis da Copa do Mundo de 2014. Perdoem-me os que pensam tal qual
Galvão Bueno que o Júlio Cesar é o herói da nação Brasileira. Para mim, ele
apenas fez corretamente o trabalho que foi muito bem pago pra fazer!
São apenas exemplos, para
provocar a reflexão, mas se fossemos à essência do fenômeno encontraríamos
diversas contradições, com certeza, revoltantes. E dito tudo isso, me pergunto
o que tenho feito para mudar essa realidade? Penso, sou professora! Escolhi uma
profissão que lida com o Ser Humano e, portanto, por meio da formação posso
contribuir para o processo de sua “REhumanização” se é que este termo tenha
sentido. Escrevo este texto diante da minha revolta pensante e me pergunto:
isto é suficiente? Será que vai fazer sentido para alguém? Será que devo ir
para as ruas, manifestar...manifestar...manifestar...
Como mudar essa realidade cruel? Enfim,
“Seja a mudança que você deseja para o mundo” (Gandhi) e talvez, quem sabe um
dia, o mundo todo mudará!
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