Carta aos professores da EMB
A GREVE DOS PROFESSORES PRECISA DE MÚSICA
Colegas professores da Escola de Música de Brasília,
A maioria dos professores da nossa Escola de Música é filiada ao SINDICATO DOS PROFESSORES-DF. Entre os motivos que nos levam a fazer parte de um organismo como o SINPRO, está o desejo de ter ao nosso lado uma entidade que nos dê suporte quando for necessário lutar pelos nossos direitos como trabalhadores. Os professores do DF há muito tempo reivindicam salários dignos, melhores condições de trabalho, reestruturação do plano de carreira, ativação de um plano de saúde, etc. Os governos que se sucederam, pouquíssimo fizeram no sentido de atender essas reivindicações. Com esse descaso, os professores fazem parte de uma das categorias do GDF com o salário mais baixo entre as que possuem nível superior.
Em abril de 2011, o Sinpro entregou ao GDF uma pauta com reivindicações aprovada em assembléia. O GDF se comprometeu a atender os principais pontos dessa pauta, fixando algumas datas. Os prazos venceram e as promessas não foram cumpridas. O Sinpro seguiu tentando reabrir as negociações, porém sem sucesso. Em assembléia realizada no dia 17/11/2011, foi aprovado por ampla maioria o movimento “Contagem Regressiva até o dia 8 de março” de 2012, na espera de uma negociação com o governo.
No dia 8 de março de 2012, foi realizada assembléia em que se aprovou a greve por tempo indeterminado (segundo a Polícia Militar, estavam presentes cerca de 12.000 professores). Como último recurso na tentativa de sensibilizar o governo para o descaso não só com os professores e sim com a educação, o Sinpro lidera hoje, uma paralisação decidida pela maioria da categoria. Nesse momento, se eu como professor e filiado não o apóio, o enfraqueço e enfraqueço uma luta que é histórica no Brasil, onde sempre houve a desvalorização de um dos setores mais importantes para o desenvolvimento da sociedade. Desvalorização que acabou gerando a idéia de que nossa profissão deve ser mal remunerada, e que o professor deve viver de idealismo.
Nossas reivindicações não se referem apenas aos baixos salários, mas também à situação de penúria em que se encontram as nossas escolas. Olhemos para nossa escola de música: nosso prédio é antigo e nunca recebeu reformas além de remendos; professores disputam espaços para ensinarem; as salas de aulas não têm ventilação e algumas estão esburacadas (permitindo a entrada de animais estranhos, como gambás); os banheiros se encontram em situação precária; nosso teatro está desabando aos poucos; as aulas e ensaios sofrem prejuízos pelos pianos estarem quebrados e desafinados há mais de uma década; equipamentos estão sucateados; etc., etc., etc... E o que dizer da segurança nas imediações do prédio da escola?
Os professores da Escola de música de Brasília nunca participaram de greves, a não ser quando um ou outro aderiu isoladamente a algum desses movimentos. Isso demonstra que sempre estivemos alheios às lutas empreendidas pela categoria, porém, sempre fomos beneficiados com as conquistas adquiridas pela coragem de outros companheiros em se arriscarem numa batalha que deveria ser de todos nós. É notório que todas as conquistas que os professores obtiveram ao longo da história foram conseguidas com muita luta.
Temos hoje em torno de 40 professores da Escola de Música em greve. É uma participação considerável em relação às outras greves. Porém, é muito pequena em relação ao total de 230 professores que trabalham atualmente na escola. É a escola com o maior número de professores da rede pública, e seria muito importante para o sucesso do movimento ter uma quantidade maior de professores paralisados.
Respeito totalmente a decisão dos colegas que não desejam participar da greve. Cada um tem suas razões e elas devem ser consideradas. Os motivos são vários, mas percebo que muitos estão simplesmente conformados com a situação; não se motivam nem a comparecer a uma assembléia. Conformação é a falência! Se me conformo, significa que aceito ser explorado; que acho o Brasil um país justo e que as autoridades e os políticos são honestos e fazem tudo pelo bem da população. Essa atitude nos leva à perda da nossa capacidade de indignação, nos tornando avalistas da corrupção que empesteou nosso país.
A greve se encontra na quarta semana. Se não tomo parte nessa luta, estou admitindo ser bem remunerado por minha dedicação e por tudo que investi em minha formação. Sinalizo também que minhas condições de trabalho são as “melhores possíveis” e que o governo investe “heroicamente” o dinheiro público no ensino.
Tudo indica que o Brasil gasta muito dinheiro com seus políticos. Pagamos os impostos mais caros do planeta, cuja arrecadação é desviada para enriquecer esses ladrões do dinheiro público, levando-os a se perpetuarem no poder. A imprensa brasileira já divulgou que “os parlamentares brasileiros são os mais caros do mundo”, ao ponto de “cada senador brasileiro custar cerca de trinta e três milhões de reais por ano”; bem como “cada deputado custa seis milhões e seiscentos mil reais por ano”. “Em Brasília, cada um dos 24 deputados distritais custa por ano quase dez milhões de reais”. Também já foi divulgado nos meios de comunicação que apenas “em 2011 o GDF gastou 140 milhões em propaganda”. Dá pra afirmar que não há verba para dar aumento aos professores? E ainda quantos bilhões de reais serão gastos (e surripiados) na construção de estádios monumentais para 2014? Podemos dizer que o Brasil é um país pobre?
A participação na greve, além de reivindicar nossos direitos, também demonstra nossa indignação diante da farra que esses mal feitores fazem com o dinheiro do contribuinte.
Uma greve prejudica a todos, sim, menos ao governo, que tem dinheiro para investir em propaganda enganosa com o intuito de desmoralizar o movimento. A paralisação por si só pode não ter o efeito que desejamos. É necessário também sensibilizar os alunos e os pais, para que se solidarizem com essa luta. A educação tem que ser valorizada por todos e principalmente pelo governo; e essa valorização começa com salários dignos pagos a todos os profissionais da educação.
Nesse momento, é justo me refugiar na sala de aula enquanto outros companheiros se expõem lutando por direitos que também são meus?
Colegas professores da escola de música, vamos aderir ao movimento! Se todos os professores do DF paralisassem, a greve demoraria menos e a possibilidade das reivindicações serem atendidas seria maior.
O ARTISTA NÃO PODE SE REFUGIAR NA SUA ARTE E FICAR ALIENADO DA REALIDADE EM QUE VIVE. A nossa greve precisa dos professores de música!
Joaquim França,
Professor da Escola de Música de Brasília
Brasília, 03 de abril de 2012
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