segunda-feira, 13 de junho de 2016

Porque a Escola e a Universidade sem Partido é um engodo? Manifesto contra a perseguição ideológica e pelo direito de ser Professor


Diante de alguns acontecimentos e de postagens mais frequentes referentes ao Projeto de Lei "Escola sem Partido" e "Escola Livre" e o recente movimento (que se não fosse de grave consequências deveria ser ignorado, tamanho absurdo do intento) denominado "UnB sem Partido",  resolvi publicizar minha opinião,partindo daspremissas que o mito da neutralidade científica é tão somente um mito e que enquanto professor posso errar por excesso, mas nunca por omissão. 


O avanço do pensamento conservador na atualidade é notório, mas isso não quer dizer que não havia antigamente. No entanto, hoje diversos projetos de lei que estão sendo aprovados na Câmara Legislativa não levam em conta os interesses da população brasileira. E isso é péssimo. Lamentável,  Também passamos por um conjuntura em que muitos saem às ruas ou ficam online expressando o que antes tinham vergonha. E isso é bom... e que cada um arque com as consequências do que defendem (em alguns casos como racismo e similares que pague penalmente). Acho bom, porque o debate pode ser franco, direto e sem subterfúgios. O perigo reside quando se cai  no absurdo frequente da polarização, do desrespeito e do discurso ao ódio. 

Infelizmente é aí que o Escola/UnB sem Partido cai! Também cai na deslegitimação e na tentativa de criminalização de parcela de docentes que possuem posicionamento política e embasamento científico divergente do que os partidários dos Sem partidos possuem (Partidários sim!  Porque todos tomam partido de algo,  consciente ou inconscientemente.  E tomaram partido contra os professores de esquerda e a favor de partidos -Tal como o PSDB do Izalci mentor do projeto - que estão se aproveitando retoricamente do apelo desse projeto,  para interesses particulares). 

Oras, não seria a Universidade e a Escola espaços para a pluralidade acadêmica e científica? Será que voltaremos ao tempo da Ditadura Militar onde se perseguiam professores contrários ao regime e onde cerca de 400 professores acabaram deixando a Universidade por essa razão?¹   

Falar de doutrinação é subestimar a inteligência e a capacidade crítica dos estudantes. O estudante não é obrigado a concordar com nenhum professor, bem como precisa buscar fundamentação acadêmica e científica para tal. É claro que pode existir professores que possuem dificuldade em aceitar o discordante.  Mas isso existe em todas as gradações ideológicas presentes no ser humano, da direita à esquerda. Se isso ocorrer o estudante deve  relatar os abusos de qualquer índole e buscar os caminhos necessários para reparação desses atos. 

Quero exemplificar esse meu post com uma experiência pessoal.  Em 2007 ingressei no mestrado e tive a sorte de ter uma orientadora excelente.  Aprendemos rapidamente a trabalhar juntos, eu desenvolvendo a pesquisa e ela me orientando. Ao longo do tempo, ficou evidente que tínhamos divergências no campo teórico, ela Weberiana e eu ainda tentando me firmar teoricamente no Marxismo, por entender que essa matriz filosófica era a que mais chegava perto da minha compreensão de mundo. Ela me respeitou profundamente e ao mesmo tempo que me indicava leituras do seu campo teórico, se desdobrava para me orientar no meu campo. E eu lia o do outro campo e buscava referências no meu campo para contrapor algumas questões...  Esse processo foi riquíssimo tanto pra mim quanto, acredito, que para ela.

Temos na UnB atualmente um quadro plural com professores com diferentes compreensões, metodologias,  experiências.... Que maravilha! Mas perseguir professores que representam parcela minoritária no quadro da instituição representa mais do que um contrassenso! Representa um retrocesso. Falo por consciência de causa, pois só eu sei quais as dificuldades e obstáculos que tive que enfrentar (e superar) pelo fato de ser de "esquerda", marxista, ter sido do Centro Acadêmico e da EXNEEF, ter militância política, sindical, ser contra o CREF etc....

Temos que dar um basta nisso! O professor deve ter liberdade para se expressar, de ter autonomia relativa na construção do seu planejamento, de ensinar e pesquisar sem patrulhamento ideológico, assim como o estudante deve ser respeitado nas suas convições. 

Como já falei,  se algum professor fizer algum ato que não esteja de acordo com a prática docente,  deve ser responsabilizado por isso.... Mas tornar lei um processo que institucionaliza a inquisição e a perseguição a determinados professores e grupos é inadmissível. É triste. É revoltante. Vai no caminho de tornar a Universidade um lugar de intolerância.  A Universidade (e a escola) deve ser o lugar da apreensão crítica do mundo e da humanidade,  qualquer tentativa de amordaçar o professor é mais um ataque a construção de um mundo mais livre,  justo e solidário,  

Pedro Osmar Flores de Noronha Figueiredo
Professor (SEDF/UNB)



1.para saberem mais assistam o excelente filme BARRA 68 de Vladimir Carvalho que trata da interferência da Ditadura Militar na UnB.

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