Internacional| 11/07/2012 | Copyleft
Occupy não tem idade
Os movimentos “Occupy” trouxeram um novo impulso e um novo estilo aos processos de ocupação, em escala internacionalo, a que a Alemanha e Berlim não ficaram indiferentes. Mas tradicionalmente esses movimentos sempre foram associados a jovens, hippies, punks, militantes de esquerda, ou sem-teto. Agora a cidade de Berlim está às voltas com um novo movimento de ocupação. O artigo é de Flávio Aguiar, direto de Berlim.
Flávio Aguiar – direto de Berlim
Berlim tem uma longa tradição de ocupações. Essa tradição se consolidou depois da queda do muro, em 1989. Já na Berlim Ocidental havia movimentos de ocupação, dirigidos para prédios abandonados – alguns desde a guerra. Com a reunificação, o movimento se estendeu para a antiga parte oriental.
O caso mais famoso dessas ocupações é o do prédio conhecido como Tacheles, em ruínas, tomado por artistas e seus ateliês, além de bares em março de 1990. Retomado em parte por uma empresa que comprou a área, uma parte dele continua ocupada, e o destino do prédio ainda é incerto.
Os movimentos “Occupy” trouxeram um novo impulso e um novo estilo aos processos de ocupação, em escala internacionalo, a que a Alemanha e Berlim não ficaram indiferentes. Mas tradicionalmente esses movimentos sempre foram associados a jovens, hippies, punks, militantes de esquerda, ou sem-teto.
Agora a cidade de Berlim está às voltas com um novo movimento de ocupação.
O objeto da ocupação é um prédio na antiga parte oriental da cidade, no bairro de Pankow, perto de um conjunto de residências onde moravam altas autoridades da Alemanha Oriental, numa rua ovalada conhecida como Majakowskiring.
O prédio em questão também teve ocupantes famosos – embora de sinistra memória: Erich Mielke e sua família, um dos chefes da temida Stasi, a polícia política da RDA. Também foi sede da própria Stasi local.
Mas os ocupantes de agora são de outra estirpe: a esmagadora maioria dos ocupantes têm mais de 70 anos – e são mulheres, em grande parte.
O objetivo da ocupação é preservar um centro de reunião para “seniores”, como se designam os idosos por aqui. Nesse centro eles e elas se reuniam para jogar cartas, dominó, outras formas de lazer, praticar ioga, fazer reuniões de interesse local, ou simplesmente para bater papo.
Acontece que a administração regional considerou cara a manutenção do prédio ( 60 mil euros por ano) e dispendiosa demais uma reforma que julga necessária, orçada em 2 milhões de euros. Então decidiu vender o prédio.
Foi a fagulha: em junho cerca de 300 freqüentadores – o caçula tem 65 anos – decidiram ocupar o prédio e resistir. Lá estão eles, nesse prédio da Stille Strasse – Rua do Sossego, ou do Silêncio – com seus colchões, dormindo no chão, fazendo revezamentos noturnos para que a administração regional não possa retomar o prédio, preparando cafés comunitários, refeições...
E chamando a atenção da cidade. Mais de 50 reportagens já foram feitas na mídia berlinense de todo tipo, além deles receberem moções de solidariedade de todo tipo, inclusive sob a forma de doações, sob a forma de frutas, alimentos, doces, e há até um restaurante local que doa refeições quentes para os “seniores – senhoras e senhores”.
A líder do movimento, Doris Syrbe, de 72 anos, garante que elas e eles vão ficar e resistir, até que uma solução seja encontrada. E sequer passa-lhe pela cabeça, pelo menos por ora, a remoção para algum outro prédio.
A mídia tem destacado que esse movimento assinala mudanças sociais importantes que estão ocorrendo na cidade. Depois de voltar a ser a capital da Alemanha, Berlim passa por um processo geral de encarecimento do custo de vida, tradicionalmente um dos mais baixos dentre as capitais européias, incluindo as do antigo leste. O preço dos aluguéis e da manutenção de imóveis tem aumentado, com a freqüência crescente de turistas, diplomatas, gente de negócios e até de estudantes. Berlim é uma das poucas cidades (com caráter de estado) na Alemanha onde o estudo superior permanece gratuito. Isso atrai estudantes de toda a Alemanha – que vêm morar nos bairros antes reservados predominantemente para imigrantes, trabalhadores e população pobre. Estes vão se deslocando para mais longe, e o preço dos aluguéis naqueles bairros começa a aumentar. Em seguida vêm os novos yuppies com seus ternos e carros caros – e condomínios fechados.
E a oportunidade da existência de prédios como o da Stille Strasse diminui.
Mas os velhinhos e as velhinhas da Stille Strasse anunciam que não vão desistir – no melhor estilo dos movimentos “occupy”, que, como se vê, não têm idade-limite.
O caso mais famoso dessas ocupações é o do prédio conhecido como Tacheles, em ruínas, tomado por artistas e seus ateliês, além de bares em março de 1990. Retomado em parte por uma empresa que comprou a área, uma parte dele continua ocupada, e o destino do prédio ainda é incerto.
Os movimentos “Occupy” trouxeram um novo impulso e um novo estilo aos processos de ocupação, em escala internacionalo, a que a Alemanha e Berlim não ficaram indiferentes. Mas tradicionalmente esses movimentos sempre foram associados a jovens, hippies, punks, militantes de esquerda, ou sem-teto.
Agora a cidade de Berlim está às voltas com um novo movimento de ocupação.
O objeto da ocupação é um prédio na antiga parte oriental da cidade, no bairro de Pankow, perto de um conjunto de residências onde moravam altas autoridades da Alemanha Oriental, numa rua ovalada conhecida como Majakowskiring.
O prédio em questão também teve ocupantes famosos – embora de sinistra memória: Erich Mielke e sua família, um dos chefes da temida Stasi, a polícia política da RDA. Também foi sede da própria Stasi local.
Mas os ocupantes de agora são de outra estirpe: a esmagadora maioria dos ocupantes têm mais de 70 anos – e são mulheres, em grande parte.
O objetivo da ocupação é preservar um centro de reunião para “seniores”, como se designam os idosos por aqui. Nesse centro eles e elas se reuniam para jogar cartas, dominó, outras formas de lazer, praticar ioga, fazer reuniões de interesse local, ou simplesmente para bater papo.
Acontece que a administração regional considerou cara a manutenção do prédio ( 60 mil euros por ano) e dispendiosa demais uma reforma que julga necessária, orçada em 2 milhões de euros. Então decidiu vender o prédio.
Foi a fagulha: em junho cerca de 300 freqüentadores – o caçula tem 65 anos – decidiram ocupar o prédio e resistir. Lá estão eles, nesse prédio da Stille Strasse – Rua do Sossego, ou do Silêncio – com seus colchões, dormindo no chão, fazendo revezamentos noturnos para que a administração regional não possa retomar o prédio, preparando cafés comunitários, refeições...
E chamando a atenção da cidade. Mais de 50 reportagens já foram feitas na mídia berlinense de todo tipo, além deles receberem moções de solidariedade de todo tipo, inclusive sob a forma de doações, sob a forma de frutas, alimentos, doces, e há até um restaurante local que doa refeições quentes para os “seniores – senhoras e senhores”.
A líder do movimento, Doris Syrbe, de 72 anos, garante que elas e eles vão ficar e resistir, até que uma solução seja encontrada. E sequer passa-lhe pela cabeça, pelo menos por ora, a remoção para algum outro prédio.
A mídia tem destacado que esse movimento assinala mudanças sociais importantes que estão ocorrendo na cidade. Depois de voltar a ser a capital da Alemanha, Berlim passa por um processo geral de encarecimento do custo de vida, tradicionalmente um dos mais baixos dentre as capitais européias, incluindo as do antigo leste. O preço dos aluguéis e da manutenção de imóveis tem aumentado, com a freqüência crescente de turistas, diplomatas, gente de negócios e até de estudantes. Berlim é uma das poucas cidades (com caráter de estado) na Alemanha onde o estudo superior permanece gratuito. Isso atrai estudantes de toda a Alemanha – que vêm morar nos bairros antes reservados predominantemente para imigrantes, trabalhadores e população pobre. Estes vão se deslocando para mais longe, e o preço dos aluguéis naqueles bairros começa a aumentar. Em seguida vêm os novos yuppies com seus ternos e carros caros – e condomínios fechados.
E a oportunidade da existência de prédios como o da Stille Strasse diminui.
Mas os velhinhos e as velhinhas da Stille Strasse anunciam que não vão desistir – no melhor estilo dos movimentos “occupy”, que, como se vê, não têm idade-limite.
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