domingo, 19 de junho de 2011

Espaço Vivo


O “Bullying Social” do Professor
por Tiago Onofre

Há alguns meses venho planejando um esboço de reflexão sobre o tema da violência escolar, traduzido atualmente como Bullying, principalmente pelos recentes casos noticiados, especificamente pela internet, que levaram muitos a tomar contato superficial com o tema. 
De início tivemos, no fim de Março, a divulgação do vídeo de um garoto australiano, Casey Heynes, revidando as agressões de seu colega, Ritchad Gale, que o transformou em símbolo de combate às práticas de violência escolar, reascendendo o debate acerca do tema, ocupando lugar de destaque nos sites que compõem as redes sociais (Facebook, Youtube, Twitter, Orkut). Poucas semanas depois, tivemos, no início do mês de Abril, a tragédia em Realengo, em que um homem invadiu uma escola, no Rio de Janeiro, atirando contra os alunos, resultando a morte de 11 crianças e, novamente, o tema do Bullying ressurge como um dos motivos que o levara a cometer tamanha atrocidade.

Os dois casos anunciados impulsionaram, para além da internet, o debate acerca da violência escolar, entre os pais, alunos, diretores, professores, psicólogos buscando respostas, motivos, soluções, para as situações humilhantes em que muitos alunos vivenciam silenciosamente. Tenho a impressão que, o volume de informações, notícias, vídeos que se originaram a partir dos destes casos, tenha sofrido um desgaste, de maneira pouco reflexiva, esfriando o interesse da sociedade civil no tema, pelo uso incansável e vulgar do termo, ligado a qualquer tipo de violência, esvaziando, assim, a sua atualidade e importância.
Por qual motivo trago novamente o tema para este texto? Penso que a questão merece reflexões mais rigorosas, além daquelas reclamações oriundas de um sensacionalismo vazio, abstrato e descartável.
Primeiro, ao discutirem o Bullying, tratam-no apenas na esfera escolar, como se a escola fosse isolada e isenta das relações sociais no geral, como se dentro dela fosse possível uma blindagem dos problemas que ocorrem na sociedade. Deixemos claro que, compreendemos o Bullying, como uma das manifestações da violência, consequencia geral de uma sociedade individualista, competitiva, egoísta, na qual a escola influencia e por ela é influenciada.
Em segundo lugar, o assunto, na maioria das vezes, é tratado apenas quando o aluno é a vítima e, a partir daí, trago a questão principal do texto: E o bulling contra o professor? Como fica?
Se assistirmos a uma importante reportagem do programa "Profissão Repórter" da Rede Globo, veremos que a violência na Escola é mais abrangente, identificamos o descaso no qual o professor é tratado. Outros casos de violência contra o professor são noticiados atualmente, como o assassinato do professor de Educação Física Kassio Vinicius Castro Gomes, em Minas Gerais; casos de cyberbullying, o bullying virtual, como o da professora de Educação Física, Marinês Ló, no Paraná; e pasmem, casos de agressão de pais contra o professor, como o da escola municipal Ruy Barbosa, no Rio de Janeiro. O professor, como qualquer outro indivíduo dentro da escola, também é vítima deste fenômeno.

Esta semana, o Senado aprovou a inclusão de combate ao "bullying" na LDB. Há de se pensar que, a simples inclusão de leis não mudará a realidade. Apenas burocratizam ainda mais as relações sem, contudo, solucionar as causas, que ultrapassam os limites da escola. A lei somente trará algum efeito quando a realidade apontar para a superação do problema, refletindo, assim, a situação concreta atingida. Visões, saídas, respostas, como esta se apresentam como superficiais, por apenas tratarem os efeitos e não as causas. Buscando ir além dessa interpretação, compreendo que a situação de violência é reflexo de todo um processo de crescente desvalorização do professor, vitimado por outras formas de violência, como a precarização do trabalho, os baixos salários, a falta de materiais, o falta de incentivos, configurando assim uma espécie de "bullying social", depreciando ainda mais a imagem do professor.
Pegando carona em mais um fenômeno da internet, a Professora Amanda Gurgel, do Rio Grande do Norte, aproveitando a onda de indignação causada, proponho que, de maneira conjunta, os leitores devem repensar a situação de descaso com a Educação e com o professor, dialogando com toda a comunidade escolar e a sociedade civil em geral, acerca dos problemas, dos conflitos, para além da denúncia, da simples exposição dos fatos, visando a superação por meio da conscientização sobre o tipo de sociedade almejamos formar e viver, partindo de situações concretas, por meio de uma ética que orientará a reflexão sobre o papel de cada um na constituição de uma sociedade mais humana, altruísta, coletiva, tendo o bem-comum, o objetivo geral a ser alcançado.

 
Obs: As referências estão em formato de links ao longo do texto, que os levarão às notícias e vídeos que ilustram os exemplos apontados. Portanto, cliquem a vontade.

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