Concordo em gênero, número e grau
Tinha prometido a mim mesmo que ia deixar um pouco de lado a minha paixão pelo futebol depois do fiasco do Brasil na Copa. Prometi a mim evitar emit...ir opiniões, aceitar convites de programas de esporte, debater nas rodas com amigos etc. Prometi que me calaria sobre o assunto por um certo tempo. Que me concentraria no meu trabalho e em meus compromissos profissionais e familiares, tantos que são.
Mas a convocação de Dunga me indignou de tal maneira, revolveu o meu fígado, acelerou meu batimento cardíaco, despertou velhas raivas de um modo tal que me fez descumprir meu trato comigo. E cá estou eu para falar duas ou três coisas sobre o tema.
Futebol pra mim é coisa séria. Está, em grau de importância, perfilado na minha galeria de interesses com a música, a literatura, a política, a religião e outras coisas maiúsculas. Ultrapassa o escopo do esporte, invade o da cultura. Futebol é cultura - é poesia, filosofia e sociologia, tudo junto. É arte, espetáculo. Pode ser trágico como uma ópera ou risível como uma chanchada. Como uma guerra, pode redimir um povo das humilhações do mundo (vide nossos campeonatos mundiais em 58, 62 e 70) ou submetê-lo às mesmas humilhações (vide os malogros de 98 e 2014).
Chamar o Dunga de volta à Seleção soa como chacota, deboche, desrespeito mesmo ao torcedor/cidadão. Especialmente quando a cantilena da renovação é ventilada aos quatro cantos do país. Renovar o quê? Como? Dunga é mau técnico, e não adianta apelar para números, pois números não entram em campo (Felipão também o é, e não estou falando isso agora, depois do desastre, como covardemente alguns fizeram – falo isso desde sua convocação. Ele pode ser paizão, bom psicólogo de vestiário, carismático e franco, mas nunca foi bom técnico).
Agora toma-se a Alemanha como modelo de grande futebol, como em 2010 tomava-se a Espanha. E pensar que ambas as seleções confessaram-se fãs do futebol brasileiro, mas de um futebol brasileiro que deixou de existir, aniquilado que foi pelo pragmatismo burro de Lazaronis, Parreiras, Felipões e Dungas.
Mas não quero correr o risco de ser injusto. Quando Dunga jogava, eu não nutria grande simpatia por seu estilo de jogo. Naturalmente o comparava a craques da posição de outros tempos, como Clodoaldo, Falcão, Cerezo, Andrade etc. Hoje, olhando para trás, reconheço que foi um jogador muito acima da média, com um bom passe, grande vigor físico, bom desarme e poder de liderança em campo. Confrontado com os Fernandos, Ramires e Hernanes da vida, Dunga quase ganha estatura de craque. Mas considero sua passagem como técnico pela Seleção desastrosa, não importa que tenha ganho títulos ou que seu rendimento tenha sido 70 e tantos por cento. Danem-se os números. Sob seu comando o Brasil jogou um futebol opaco, feio, nunca brilhante. E, por ter sido muito criticado à época do tetracampeonato, tornou-se um sujeito amargurado, rancoroso, revanchista.
Já começo a escolher uma nova seleção pra qual torcer enquanto Dunga (e seu rancor) estiver no poder: talvez a Colômbia de James Rodriguez, talvez o Chile de Sánchez, ou quem sabe a simpática Costa Rica de Campbell. Voltarei a torcer para o Brasil quando Dunga estiver longe (e espero que seja muito em breve), e também a quadrilha de Marin e Del Nero e o agente de jogadores Gilmar Rinaldi (outra piada de mau gosto).
O Brasil é uma terra de gigantes do futebol, desde sempre. De Leônidas da Silva a Sócrates, de Júnior a Romário, de Zico a Rivelino, de Garrincha a Zito, de Didi a Vavá, de Pepe a Ademir da Guia, de Tostão a Rivaldo, de Garrincha a Nílton Santos, de Leandro a Robinho, de Reinaldo a Neymar. Mas a CBF prefere optar por um anão. Dunga é um anão, e sempre o será, conquiste ele 8 ou 9 Copas do Mundo. Quem é grande não faz esforço para sê-lo.
Zeca Baleiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário