sábado, 30 de abril de 2011

Do chão da Quadra


Abaixo, posto mensagem de um companheiro da Educação Física que pediu exoneração de seu cargo na Universidade, após intensas perseguições políticas...
Fica para todos nós a indignação e o protesto frente àqueles que continuam oprimindo os que lutam por uma sociedade justa e igualitária....
Força na luta sempre, Professor Lauro!

Camaradas, amig@s, companheir@s de luta,

inicialmente gostaria de agradecer todas as declarações e moções durante a nefasta sindicância e posteriormente Processo Administrativo Disciplinar. Não foram momentos fáceis dentro de uma universidade que há muito perdeu sua condição de elemento de luta dentro do contexto do sistema político-econômico em que vivemos.

Como diria o Camarada Lênin o professor que conseguiu o seu "carguinho" almejado deixará de lado sua indignação frente a tantas injustiças sociais.

Não entrei na universidade em troca de um salário ou para ter um doutorado que aumente os meus vencimentos (este é o discurso da maioria), entrei nesta batalha com toda carga teórica que sustentou minha vida inteira, e não posso ser incoerente com que o penso e o que faço. Percebi que no meu espaço de trabalho, especificamente em Cuité/PB,  as articulações e forças políticas estavam esgotadas, por isso fiz questão de citar o final de "Germinal" (apresento sem problemas as minhas limitações como um dos elementos das desarticulações existente, além de outros fatores).

Etienne lutou bravamente nas minas de carvão francesa. Seguiu sua consciência e conseguiu enxergar todas as contradições de um sistema que degrada o ser humano e leva ao patamar de miséria milhões de pessoas. Naquele momento histórico o personagem principal de Germinal teve que seguir em frente, caminhar, buscar outras formas mais amplas de luta - das minas de carvão restaram-lhe enormes aprendizados, derrotas, amores (as questões subjetivas também pesam nestas horas), pessoas que o apoiaram, pessoas que ficaram à mercê de sua partida. Mas, como já foi dito, ninguém é insubstituível e como diria o Comandante Ernesto Guevara, outros lugares terão os meus modestos esforços no sentido de construir uma sociedade mais digna, mais humana, mais fraterna - distante deste capitalismo devastador que transforma pessoas em objetos e valores monetários.

Sei que esta minha posição foi unilateral, não foi construída e nem dialogada com tantas pessoas e entidades (em especial a ADUFCG e toda a diretoria sempre presente) que sempre estiveram ao lado da luta concreta que estamos travando ao longo da história. Como diria Gonzaguinha “e hoje, depois de tantas batalhas, a lama nos sapatos é a medalha que ele tem para mostrar” – e temos que encarar estes momentos de descenso como natural, especialmente quando não optamos por estar ao lado dos cooptados de todo tipo.

Não vejo que desisti, não enxergo que recuei, apenas acredito que é preciso “dar um passo para trás, para poder dar dois passos para frente” (Lênin) e continuar nesta luta até o fim dos nossos dias. Eles não venceram, continuaremos com o nosso compromisso histórico de combater, denunciar e vislumbrar uma mudança radical deste sistema podre que nos cerca.

Camaradas, por coerência, a universidade brasileira não é mais, para mim, um local da luta política, mas tenham certeza que estaremos fortalecendo os bastiões da resistência onde quer que estejamos.

Como disse o Comandante Camilo Cienfuegos, em plena luta da Sierra Maestra, “aqui ninguém se rende!”.

Em homenagem a tod@s @s camaradas que deram suas vidas, em 1871, nas trincheiras da Comuna de Paris,

saudações,

Lauro Pires Xavier Neto

“(...) seguiu pela estrada por algum tempo, absorto. Muitas idéias fervilhavam dentro dele. Mas teve uma sensação de ar livre, de céu aberto, e respirou longamente. (...) Pensava em si, sentia-se forte, amadurecido por sua dura experiência (...). Sua educação estava terminada, partia armado, como soldado intelectual da revolução, tendo declarado guerra à sociedade, tal como a via e condenava. (...) Já se via na tribuna, triunfando com o povo, se este não o devorasse antes.
(...) Decididamente, tudo se estragava quando havia luta pelo poder. (...) Teria razão Darwin, o mundo não seria mais que uma batalha, os fortes devorando os fracos, para o embelezamento e a continuidade da espécie?
(...) Depois, no dia em que fossem multidão, no dia em que milhões de trabalhadores se apresentassem diante de alguns milhares de desocupados, tomar o poder, ser os donos. Ah! Que despertar da verdade e da justiça!
(...) Por todos os lados as sementes cresciam, alongavam-se, furavam a planície, em seu caminho para o calor e a luz. Um transbordamento de seiva escorria sussurrante, o ruído dos germes expandia-se num grande beijo. E ainda, cada vez mais distintamente, como se estivessem mais próximos da superfície, os companheiros cavavam. Sob os raios chamejantes do astro rei, naquela manhã de juventude, era daquele rumor que o campo estava cheio. Homens brotavam, um exército negro, vingador, que germinava lentamente nos sulcos da terra, crescendo para as colheitas do século futuro, cuja germinação não tardaria em fazer rebentar a terra". (Germinal. Émile Zola)

Ilmo. Sr. Secretário de Recursos Humanos da UFCG
Campina Grande, 27 de abril de 2011
Requeiro exoneração do cargo de professor Assistente II da Universidade Federal de Campina Grande,
Atenciosamente,

Lauro Pires Xavier Neto
SIAPE 1439971        CPF 917499214-72
Esta documentação segue via fax e sedex

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