segunda-feira, 5 de março de 2012

ANF e o REP


Neste carnaval em Recife/Olinda, tive a oportunidade de fortalecer a amizade com Patrick Granja, que trabalha na ANF - Agência de Notícias da Favela (http://www.anf.org.br), que conforme o texto em seu editorial apresenta sua luta: 

Unir e resistir para crescer e prosperar

Levando em conta que (1) a luta autêntica é a luta de classes, travada entre a elite e as classes populares e que, justamente por este motivo, (2) convém à elite estimular a multiplicação de grupos que lutam desarticuladamente por direitos de minorias, muitas das quais comprometidas apenas com pequenas liberdades de comportamento ou consumo, faz-se necessário somar a luta pelos direitos dos moradores de comunidades carentes a uma luta revolucionária de caráter mais amplo.
Não há dúvidas de que as antigas máximas latinas divide ut regnes ou divide et impera, isto é, dividir e conquistar, estão na base mesma desta estratégia de enfraquecimento do poder popular colocada em prática pelas classes dominantes. Afinal, evitar a mobilização e a união das massas por meio da sua divisão em inúmeros grupos desarticulados, independentes e, em muitos casos, antagônicos no jogo social, sempre foi um recurso largamente utilizado ao longo da história.
Deste modo, ainda que nosso foco seja as favelas e comunidades carentes da América Latina, nossa política editorial é bastante ampla, pois entendemos que a luta das favelas e das comunidades carentes não pode ser desvinculada da luta global contra o capitalismo. Deste modo, em nossa organização, o termofavela adquire conotações bem mais amplas do que uma mera designação pejorativa para comunidades carentes, passando a representar todo aquele que não possui os direitos básicos da cidadania ou mesmo os que se identificam e apóiam a luta internacional dos povos pelos direitos e pela cidadania.
Sendo assim, o principal objetivo da Agência de Notícias das Favelas (ANF) é democratizar a informação de modo geral, não apenas veiculando notícias das favelas para o mundo, mas sobretudo estimulando a integração e a troca de informações entre as favelas, sempre com a finalidade de melhorar, por meio da formação de uma ampla frente popular, a qualidade de vida do povo, pois acreditamos que um mundo melhor é possível.
ANF
Desta forma, ao conhecer um pouco a ANF e a rede de ações desenvolvida nas Favelas cariocas, foi me apresentado o REP (Evento cultural "Ritmo e Poesia na comunidade do Jacarezinho - Rio de Janeiro") e repasso para que todos(as) possam conhecer. O próximo REP é nesta quinta-feira.
Faltou luz no último REP – Ritmo E Poesia no Jacarezinho. Constrangimento para os promotores do evento. E do ponto de vista comercial, fiasco! Imagina ir numa festa em que falta luz? É dinheiro de volta na certa! E motivo de desculpa por parte dos organizadores:
- “Um comum infortúnio de favela, senhores. Foi por causa da chuva. Mas já entramos em contato com São Pedro, Santo Expedito, com a light e com o seu Benedito – do gato! Em breve estará tudo resolvido.”
Mas não foi nada disso que aconteceu! Felizmente o nosso REP passa longe das exigências comerciais convencionais! Ao invés de clientes, só amigos conscientes e munidos de sorrisos e boa vontade.
Até as 22h faltou luz, isso é um fato. Mas a noite não foi uma furada! Bola furada não é o fim da pelada com criança da favela. O som não tocou. Mas tudo isso ajudou a me tocar que o funcionamento do brinquedo é um mero detalhe. Vocês não sabem o quanto que a gente aprende com o jogo de dama com tampa de garrafa pet! Diversão mesmo é inventar a brincadeira. Se não tem figurinha, o que não falta é idéia pra trocar!
E foi isso mesmo que a gente fez das 20h às 22h no improviso das velas acesas nos botecos da praça da Concórdia!  E eu lá na neurose de achar que as pessoas podiam não estar se divertindo;  de não estar cumprindo com a expectativa do… cliente! Do cliente que mora dentro da gente.
Foi quando eu escutei o Johnny, que é rapper, dizer que recusou aparecer em uma reportagem em uma grande mídia comercial sobre as rodas de rima que organiza em diversos bairros da cidade do Rio de Janeiro. O que deu um nó na minha idéia.
________________________________________________________________________
ENTREVISTA (assim como eu me lembro) COM JOHNNY, rapper e ativista social.
- “Então você não quer ser famoso, Johnny”?  Perguntei perplexa e meio incrédula.
-“Quero que mostre o movimento mas não mostre a minha cara”,  disse ele.  “Eu já sou famoso. Posso subir em qualquer favela que já sou conhecido. Tenho o reconhecimento dos colegas. Sucesso é fácil. É só fazer que nem a Geisy  Arruda, ir pra faculdade sem calcinha e pronto. Mas e daí? Eu quero aparecer sim. Mas na mídia comunitária. No site da ANF. Aparecer para a comunidade, que é o que me interessa”.
- “Mas se você virar sucesso na grande mídia vai poder alcançar um numero muito maior de pessoas.” Argumentei.
- “E você não sabe como eles são? Vão dizer que isso aqui pode, isso não pode aparecer….”
- “Mas será que não vale a pena você aceitar cortar algumas coisas para depois, que já tiver uma moral, que já for bem conhecido, daí sim poder dizer pra mais gente tudo o que você pensa?”.  Perguntei (já no último suspiro da minha lógica agonizante).
- Mas aí eu já me vendi. Não existe ex-viado. Pode até ter, mas ninguém acredita nele.
__________________________________________________________________________
E nesse momento eu fui iluminada! Não só pela volta da energia elétrica às 22h que trouxe o som de volta, junto com tudo a gente tinha esperado que acontecesse (Música, o Freestyle dos Rappers, Poesia…). Fui iluminada por uma outra perspectiva.
Acho que até hoje eu só tenho jogado o jogo da classe média. Aquele que depende de certas regras, um objetivo e uma vitória. Um jogo que depende do reconhecimento dos pais, da mídia, de uma validação de um juiz, ou de alguma instância fora do jogo…  A brincadeira muito séria que eu estou começando a aprender (mas que na verdade nasci sabendo e desaprendi) com os artistas e as crianças da favela, não depende de nada de fora dela.  Acontece de dentro para dentro no presente e transforma tudo, até o que se entende por  fora, pelo tempo, e por futuro. Na ausência de uma definição mais exata da escrita, expresso pela bela gíria inventada pela gente que já viveu isso: “JÁ É!”
Nesse texto, que é a brincadeira que eu inventei,  misturei palavras, idéias, acontecimentos… Para esse jogo, leitor, você está convidado. E está convidado também para o próximo REP- Ritmo e Poesia no Jacarezinho, dia 9 de Fevereiro. Esse vai ser o dia da nossa Estréia Oficial do REP, patrocinado pela Secretaria de Cultura do Estado. Por favor apareça, mas esqueça o cliente em casa.
Salvar este texto em PDF

Nenhum comentário:

Postar um comentário