quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Caso Robson Caetano: Entre a Desvalorização da docência em Educação Física e o Jornalismo Medíocre


Todos sabemos que a profissão docente é desvalorizada. Desvalorizada por políticos, pela grande elite e ainda pela grande maioria das outras profissões e camadas da população.

As causas dessa desvalorização geral, especialmente na sociedade brasileira, remonta ao histórico descaso com a educação, principalmente coma educação pública.

O descaso com a educação pública, direito social garantido constitucionalmente se materializa pelos baixos salários (e quando há, dos precários planos de carreira), péssimas condições de trabalho, além do deficitária formação inicial e continuada. 

Em épocas eleitorais, a educação sempre aparece como futuras prioridades, mas na verdade, com a saída do período eleitoral, não há incremento no financiamento público para área, abrindo espaço para os "abutres" da educação. Estes buscam lucrar com o sucateamento da educação pública, vendendo solução miraculosas, em "pacotes de currículos" ou "novidades tecnológicas", e com isso punçando grande parte do orçamento público.

Me parece que esse é o caso da tal "militarização das escolas do DF", que apresenta soluções espetaculares (mais sempre acompanhada com mais $$), mas notadamente populistas, autoritárias e ilegais, já que ferem a Lei de Gestão Democrática (Lei 4.751/12) e os Projeto Políticos Pedagógicos da Escola.

Mas o que me levou a falar nesse artigo, foi um caso flagrante de desvalorização da profissão docente, no caso ainda mais particular, de desvalorização e preconceito com a profissão de professores de Educação Física. Profissão essa, que com muita honra venho exercendo nos últimos 15 anos e pretendo exercer até a data longínqua de minha aposentadoria (se ainda houver quando chegar lá).

Vamos ao fato: Recebi agora a pouco um print no meu whatsapp, que mostrava um pequeno texto, retirado da Coluna do Jornal do Brasil do jornalista Jan Theophilo, intitulada "Choque de Ordem", e que apresenta entre os vários comentários do colunista, o seguinte trecho, que destaco abaixo:


"Força Guerreiro: Se está difícil pra você, pensa no Robson Caetano. De medalhista olímpico, o ex-atleta passou a comentarista do SporTV, Record, curtiu uma temporada de subcelebridade na Fazenda e agora, estréia nova fase como professor de Educação Física no Colégio Ao Cubo, na Tijuca".

Não preciso argumentar muito, que essa visão elitista e preconceituosa acerca do Professor de Educação Física que atua na escola é no mínimo desrespeitosa. Mas causa ainda mais perplexidade é que tal visão (semeada no senso comum dos diversos sujeitos já explicitadas no primeiro parágrafo deste artigo), partindo de um profissional da comunicação, colunista de um dos jornais mais tradicionais  e de maiores circulação do país, esteja de tal maneira "naturalizada" pelo seu autor a ponto de realmente acreditar que exercer a nobre profissão de professor de Educação Física seja algo desmerecedor para um ex-atleta, medalhista olímpico.

Para elucidar melhor o absurdo desse comentário, esse mesmo ex-atleta foi preparado para vida e para o esporte, por excelentes professores (entre os quais, Professores de Educação Física) que contribuíram para que ele chega-se onde chegou: ao topo mais alto das disputas humanas, na especialidade atletismo. Tal feito, passado a temporada de atleta, contribuiu com seus conhecimentos acumulados no esporte, que em conjunto com a graduação em Educação Física o qualificou para atuar como comentarista em veículos de comunicação, bem como, para exercer o papel de educador.

Se ser atleta de alto nível, e por isso ser convidado a participar de um programa de TV, eleva o Robson Caetano (ao seu ver) a uma estatura de subcelebridade (que ao meu ver é uma adjetivação jocosa e injusta), bem como, se o fato de ser professor de Educação Física de escola pública (assim como eu) é sinônimo de decaída profissional, resta-me dizer, prezado jornalista que o equivocado e desqualificado é você.

Ser atleta e professor nesse país é coisa para alguém de estatura das super celebridades. Necessita de esforço, persistência, resiliência, disciplina, estudo, treino sobre-humanos. Dedicação e profissionalismo tal, que profissionais medíocres  como você nunca tiveram e nunca terão.

Aproveito para encerrar esse texto, com um grande viva a Robson Caetano e todos e todas professores/as de Educação Física deste país que lutam diariamente para elevação cultural deste país, através da educação. Batam palmas para nós, batam palmas para eles.

Por Pedro Osmar Flores de Noronha Figueiredo
Professor da secretaria de Educação do Distrito federal
Licenciado e Mestre em Educação Física
Doutor em Política Social (UnB)

"Professores
Protetores das crianças do meu país
Eu queria, gostaria
De um discurso bem mais feliz
Porque tudo é educação
É matéria de todo o tempo

Ensinem a quem sabe de tudo
A entregar o conhecimento
Ensinem a quem sabe de tudo
A entregar o conhecimento

Na sala de aula
É que se forma um cidadão
Na sala de aula
É que se muda uma nação
Na sala de aula
Não há idade, nem cor
Por isso aceite e respeite
O meu professor

Batam palmas pra ele
Batam palmas pra ele
Batam palmas pra ele, que ele merece!

(Anjos da Guarda, Leci Brandão)