Por Cosme Rímoli
O presidente Joseph Blatter nunca soube lidar com o
racismo.
Fazia de conta que não percebia.
O comandante da Fifa já disse absurdos.
Como um enorme.
Insistiu que qualquer ofensa racial dentro do campo
não deve ser levada a sério.
“Depois tudo se acerta após o jogo, com um aperto
de mãos.”
Foi massacrado pela imprensa internacional.
O Leste Europeu se tornou especialista em atos
racistas.
Vários foram os casos nos últimos anos.
Com torcedores imitando macacos, jogando banana
para atletas negros.
Faixas com frases que envergonham a humanidade.
Muitos jogadores negros já passaram pelas humilhantes
situações.
Paulinho, ex-Corinthians, chorou ao se lembrar do
que passou na Lituânia.
“Vou levar as lembranças ruins para o resto da
minha vida. Sofri muito com preconceito e com racismo na Lituânia. Logo na
minha primeira partida começaram a imitar macaco, jogar moedas e algumas outras
coisas. Quando ia passar com a minha esposa nas ruas, algumas pessoas ficavam
esbarrando para que a gente revidasse de alguma forma, querendo arrumar algum
tipo de briga ou discussão. Esses episódios me deixaram mal e me fizeram pensar
na possibilidade de desistir dofutebol. O racismo
me derrubou, me arrebentou.”
Paulinho ficou traumatizado.
Tinha apenas 17 anos.
Relembrou o que sofreu ao Lance!
E por causa dessa angústia, não estava com pressa
para voltar à Europa.
Até que representantes do Tottenham o convenceram.
Não passaria o mesmo na Inglaterra.
Foi, mas avisou que romperia o contrato se sofresse
racismo outra vez.
Na Rússia, Roberto Carlos ficou transtornado.
O ex-lateral da Seleção passou muita vergonha.
As torcidas do Krylya Sovetov e do Zenit mostraram
seu lado racista.
Imitavam macaco cada vez que ele pegava na bola.
E chegaram até a jogar bananas em sua direção.
Infelizmente, a Rússia vem se especializando na
intolerância.
O caso mais recente, no entanto, foi com o jogador
errado.
Na partida entre CSKA e Manchester City, o alvo dos
torcedores foi logo escolhido.
Yaya Touré, jogador negro que nasceu na Costa do
Marfim.
Era só a bola cair no seu pé e lá vinha a imitação
de macacos na arquibancada.
A partida era válida pela Champions League.
O marfinense ficou revoltado.
Mas não seguiu o caminho fácil de apenas reclamar
na imprensa.
Parou o jogo, mostrou ao árbitro e pediu que a
partida fosse encerrada.
Touré tomou uma decisão que fez Blatter acordar de
vez para a questão.
Foi claro.
“Esse tipo de situação tem de acabar até o Mundial
de 2018.
Se não acabar, vou ajudar a organizar um boicote
dos negros.
Não teremos tranquilidade para jogar.
Não iremos para a Rússia.
Nem nós e nem os torcedores dos países que
jogamos.”
Declarou sem medo.
Bastou para Blatter.
Misturar em uma só frase boicote e Mundial é seu
pesadelo.
Ainda mais saída da boca de um ídolo do futebol
inglês.
Seria inimaginável uma Copa sem negros.
Impossível.
Sem Balotelli, Touré, sem Neymar…
Sem as Seleções Africanas.
A proposta do marfinense é forte e factível.
Os exemplos de casos de racismo na Europa são
vergonhosos.
Blatter sentiu o baque.
E também a pressão da UEFA de Platini.
Percebeu o quanto a postura da Fifa é branda, quase
conivente.
Não adianta apenas multar e obrigar os clubes a
jogar com portões fechados.
Aqueles que possuem racistas entre seus torcedores
precisam pagar caro.
Depois da ameaça de Touré, Blatter encomendou
mudança nas regras.
Ele vai atender à reivindicação do jogador do
Manchester City.
E na, próxima temporada, os imitadores de macacos e
lançadores de banana que se preparem.
A ideia da Fifa é pressionar que eles sejam proibidos
de assistir aos jogos.
Pressionar que as polícias os identifiquem e
indiciem.
E os proíbam de ir para os estádios nos dias em que
seus times estiverem jogando.
Aos clubes, as punições serão muito mais severas.
Em vez de multas, perda de pontos.
E, em caso de reincidência, até mesmo eliminação de
campeonatos.
Touré fez Blatter parar de fingir que não enxerga.
Nunca mais foi pelo caminho da hipocrisia.
A de aceitar que os jogadores se ofendam do que
for.
E depois tudo seja esquecido com mero aperto de
mão.
Chamar o adversário de ‘macaco’ não será mais
‘coisa de jogo’.
Como defendem vários treinadores.
Inclusive Felipão, quando estava no Palmeiras.
Quando Danilo xingou Manoel de macaco.
E ainda lhe deu uma cusparada no rosto.
O STJD aplicou a suspensão de 11 jogos.
O que seria um exemplo acabou em vexame.
O tribunal acabou liberando o zagueiro de quase
metade da punição.
Ele só teve de cumprir seis jogos.
Decisão vergonhosa.
E que só premiou o ato racista, preconceituoso de
Danilo.
A Fifa pretende evitar essa situação.
E deverá também exigir punições graves aos
jogadores.
Não tolerará palavrões e gestos preconceituosos.
Como o que fez Antônio Carlos com Jeovânio.
O zagueiro atuava no Juventude e o volante no
Grêmio.
Depois de discutirem, o ex-jogador da Seleção se
irritou.
E passando a mão no próprio braço.
Quis mostrar a ‘razão’ do problema.
O seu rival ser negro.
A imagem é chocante e marcou o final da carreira de
Antônio Carlos.
Impediu, por exemplo, que fosse trabalhar como
treinador no Vasco.
As torcidas fizeram uma enorme campanha contra ele.
O Vasco foi o primeiro clube do Brasil a admitir
negros jogando no seu time.
E Roberto Dinamite teve de voltar atrás e não
contratá-lo.
Inesquecível a postura de Grafite em relação a
Desábato.
Velho costume de atletas do futebol argentino
quando enfrentam brasileiros.
Desábato acabou sendo preso em pleno Morumbi.
Mas Grafite resolveu retirar a acusação.
E nada aconteceu contra o adversário.
O brasileiro foi muito criticado por recuar.
Principalmente por várias entidades que lutam pelo
direito dos negros.
Assim como também fez a CBF.
No Sul-Americano Sub-20 em 2011, no Peru.
Jogavam Brasil e Bolívia.
Bastava Diego Maurício pegar na bola.
O jovem jogador ficou abalado.
Mas a CBF resolveu ignorar as ofensas.
Para não criar problemas com a organização do
torneio.
Infelizmente há centenas de outros casos pelo
mundo.
Tudo ainda estava muito solto em relação ao
racismo.
Foi preciso Touré ameaçar levar à frente um
boicote.
E a Fifa despertou para a seriedade da questão.
Não há Copa sem negros.
Sem brancos, sem amarelos, sem mestiços.
Mas há futebol com racismo.
E isso só irá acabar com leis rígidas.
Contra os torcedores e os clubes destes racistas.
O Leste Europeu e o resto do mundo estão alertados.
Pelo menos no futebol o preconceito custará caro.
Fora dele, ainda vai imperar a hipocrisia…
Fonte: Portal R7
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