quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

O Ornitorrinco de Chuteiras


Tese de doutorado para quem quer entender as políticas de esporte e o contexto de realização da Copa 2014


Em tempos de conhecimentos superficiais, onde o senso comum e a (des)informação impera, eis que surge "quentinho do forno" uma tese de doutorado fruto de 4 anos de estudo do camarada Pedro Athayde.

O estudo foi realizado  no Programa de Pós-Graduação em Política Social ligado ao Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília. Tese de 415 folhas intitulada:

 O ornitorrinco de chuteiras: determinantes econômicos da política de esporte do governo Lula e suas implicações sociais.






 Resumo            
A presente Tese tem como objeto de estudo a política esportiva do Governo Lula, tendo como objetivo identificar e problematizar os determinantes econômicos, sociais e políticos que delineiam e configuram as prioridades da política brasileira de esporte no período 2003-2010. Trata-se de uma pesquisa social de nível exploratório, cuja abordagem teórico-metodológica se fundamenta no materialismo histórico. Para a coleta dos dados e formação do arcabouço teórico e categorial, foram utilizados os procedimentos/instrumentos metodológicos da pesquisa bibliográfica e documental, com base nas seguintes fontes: (i) publicações oficiais governamentais; (ii) sistemas de acompanhamento do orçamento e financiamento público federal; (iii) relatórios dos órgãos de controle da União; (iv) relatórios e notas técnicas de Organizações Não Governamentais; (v) estudos econométricos de fundações privadas e consultorias internacionais. As discussões e problematizações desenvolvidas nos dois primeiros capítulos priorizam o resgate histórico da constituição do esporte, reafirmando o entendimento acerca de seu papel social como uma das necessidades intermediárias para a garantia dos direitos de cidadania. Ao mesmo tempo, buscou-se localizar e enfatizar – a partir do Estado Novo – as interfaces entre a evolução do sistema capitalista brasileiro e a organização esportiva nacional. Os dois últimos capítulos foram dedicados à abordagem do esporte dentro do Governo Lula, com ênfase em suas correlações com a política econômica e social do período supramencionado. As análises demonstram que as prioridades da política esportiva de 2003-2010 foram redirecionadas a partir da realização dos Jogos Pan-americanos de 2007 e da realização da III Conferência Nacional de Esporte em 2010. Tal redirecionamento teve como intuito privilegiar a realização de grandes eventos esportivos (Copa do Mundo FIFA (2014) e Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016)) no Brasil. A confirmação do País como sede dos megaeventos esportivos é consequência de uma ampla gama de fatores, entre os quais, um proeminente engajamento e participação estatal. A acentuada presença do Estado na conquista pelo direito de sediar tais eventos transparece os vínculos entre a política esportiva e as determinações econômicas e sociais do modelo neodesenvolvimentista gestado pelo Governo Lula, além de acentuar as funções estatais de acumulação e legitimação, destacadas por O’Connor (1977).
Fonte: boletimef.org

RACISMO NO FUTEBOL AINDA PERSISTE: TINGA QUE O DIGA

Tinga, racismo e a colonialidade do poder

  
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“Trocaria um título pela igualdade entre raças”.

Tinga, jogador negro, volante do Cruzeiro, foi alvo de manifestações racistas da torcida do Real Garcilaso, nesta quarta feira (12), em jogo válido pela Copa Libertadores, em Huancayo, no Peru.
Pouco depois de sua entrada em campo, substituindo o meia Ricardo Goulart, os torcedores do time peruano começaram a importunar o jogador cruzeirense a cada toque seu na bola, imitando sons de macaco num claro ato racista contra o brasileiro.

“Fico muito chateado. Joguei quatro anos na Alemanha e nunca passei por isso. Agora acontece em um país parecido com o nosso, cheio de mistura. Trocaria um título pela igualdade entre raças e classes e respeito”, disse o jogador em entrevista à emissoras de rádio.

As cenas rodaram o mundo e  ganhou mais destaque que os próprios resultados dos jogos. A Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) se pronunciou imediatamente após o ocorrido por meio da conta oficial da Copa Libertadores no Twitter:

Queremos tranquilizar os torcedores do Cruzeiro. A Confederação julgará o caso e todas as medidas possíveis. Sem dúvidas, sabemos que é repudiável“.

Los Incas e a Colonialidade do Poder

A Asociación Civil Real Atlético Garcilaso é um dos clubes mais jovens do Perú, fundado em 2009 e tem sede em Cuzco, uma cidade do Vale de Huatanay, conhecido como o Vale Sagrado dos Incas, na região dos Andes. Era o mais importante centro administrativo e cultural do Tahuantinsuyu, o Impérico Inca.

E que ironia, logo no Peru, terra mãe de Anibal Quijano, sociólogo e pensador humanista, conhecido por ter desenvolvido o conceito de “Colonialidade do poder”.

A colonialidade do poder é o padrão de poder que se constitui juntamente com o capitalismo moderno/colonial eurocentrado, que teve início com a conquista da América em 1492. O world-system moderno/colonial, que se constituiu a partir daquela data, deu origem a um novo padrão de poder mundial fundamentado na ideia de raça, que passou a classificar a população mundial, produzindo identidades raciais historicamente novas que passariam, por sua vez, a ficar associadas a hierarquias, lugares e papéis sociais correspondentes aos padrões de dominação (QUIJANO, 2005)

Todos seríamos, no processo “civilizatório” dirigido pelos colonizadores, contaminados com os ideais de primazia e superioridade europeia versus a subalternidade e inferioridade indígena, africana e por consequência, de sua descendência. Essa mentalidade, no contexto da demanda cotidiana pela sobrevivência incutiu em nossos povos valores depreciativos de nós mesmos indígenas, negros, latino-americanos.

A postura infeliz e equivocada da torcida demonstra o quando o colonialismo nos deixou marcas na consciência e na mentalidade. Os descendentes dos colonizadores – os mesmos que destruíram a avançadíssima civilização Inca, permanecem no comando político e/ou econômico das Américas. O racismo sempre foi e continua sendo elemento central na estrutura de dominação das elites racistas em nosso continente. O Brasil, país da democracia racial, que o diga!
Importante registrar o quão curioso é a reação hipócrita dos meios de comunicação que condenam o racismo dos outros (Peru), ao mesmo tempo em que promove uma cotidiana desigualdade e violência racial no Brasil. Foram inadmissíveis e absolutamente desrespeitosos os insultos dirigidos a Tinga. Mas é preciso dizer que são muito piores as formas como o racismo se manifesta cotidianamente no Brasil: nos números de corpos presos, espancados, desaparecidos ou assassinados e em todas as dimensões da desigualdade social. E onde está a imprensa para construir uma cobertura descente?
Povos irmãos, de matrizes raciais fundantes da humanidade e com história de violência e opressão também comuns, deveriam se reconhecer e irmanar não apenas em momentos festivos, mas principalmente na busca um mundo mais justo. Essa ainda é uma grande tarefa!



 

 
 
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A Restinga é um dos bairros mais populosos de Porto Alegre. O censo de 2010 indicava que sua população era de 51.560 moradores. Sua formação, a partir dos anos 60, tem a ver com a urbanização da cidade – e tem a ver também com exclusão social. Para abrir avenidas e solucionar os problemas de habitações insalubres, moradores das Vilas Theodora, Marítimos, Ilhota e Santa Luzia foram removidos para um novo bairro do extremo sul porto-alegrense, a 22 quilômetros da região central.

Foi na Restinga que dona Nadir criou seus quatro filhos com o salário de faxineira. Quando pegava o ônibus de manhã cedo, pensava: “Quando será que vou parar de trabalhar?” Numa tarde de 1997, seu filho Paulo César foi encontrá-la no serviço. Tinha 19 anos, estava acompanhado de uma equipe de televisão e vinha contar de seu primeiro salário como profissional: 2,5 mil reais.

Tinga já era uma revelação do time do Grêmio, aparecendo ao grande público com um golaço contra o Sport Recife. Diante do repórter Régis Rösing, chorou ao ver a mãe limpando chão.
- Já prometi pra ela que isso aí vai mudar, e vai mesmo, disse, deixando bem claro: “trabalhar não é vergonha pra ninguém”.

A vida da família mudou rapidamente, porque Tinga logo se tornaria um jogador importante para o Grêmio, ao ponto de sua torcida reproduzir, na arquibancada do Olímpico, o grito de guerra da Estado Maior da Restinga, uma das mais populares escolas de samba de Porto Alegre:

- Tinga, teu povo te ama!

Tinga mudou a condição de vida da família rapidamente, mas há outras coisas que demoram a mudar. Num jogo de 2001, Ronaldinho fez um gol pelo Grêmio e correu para abraçar Tinga no banco de reservas: “Esse gol é pra nós, que somos da vila”, disse, num episódio não registrado mas muito conhecido em Porto Alegre. Ser da vila e, principalmente, ter a pele bem escura, ainda representam um problema.

Carregando no nome o bairro onde nasceu e seu criou, Tinga é respeitado em todos os clubes por onde passou e é ídolo de vários deles. No Internacional, afirmar que foi bicampeão da Libertadores e autor do gol do título em 2006 é, na verdade, diminuir sua importância histórica na reconstrução do clube. Jogador de fibra, presente em todos os cantos do campo, pegador e goleador, Tinga foi um dos jogadores mais importantes do Inter no período entre 2005 e 2006. No Borussia, da Alemanha, a reverência e o respeito com que dirigentes, torcedores e companheiros se despediram em 2010 é a melhor prova da trajetória que construiu.

Tinga sempre foi um jogador sério, dentro e fora de campo. Um treinador do Internacional disse certa vez que Tinga puxava os companheiros pelo exemplo, dedicando-se nos treinos e nas partidas como se estivesse em início de carreira. No Cruzeiro, o técnico Marcelo de Oliveira afirmou que o jogador era referência para os mais jovens do grupo. Foi assim em todos os clubes.

Nada disso, porém, foi suficiente para mudar o preconceito, que nos estádios de futebol emerge na vazão dos sentimentos levianos que expomos quando em multidão. Tinga, que em 2005 já havia ouvido imitações de macaco quando pegava na bola no estádio Alfredo Jaconi, teve de ouvir a ofensa mais uma vez na noite desta quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014, no Estadio de Huancayo, no Peru.
Ao final do jogo entre Cruzeiro e Real Garcilaso, uma equipe de TV pediu que Tinga comentasse o episódio. Ele tomou ar, respirou o ar da Restinga, o cheiro do colo da mãe Nadir, os golaços que fez, os títulos que conquistou, o respeito que adquiriu no futebol, todas as entrevistas ponderadas e inteligentes que deu ao longo da carreira, e disse com a serenidade e a altivez dos grandes:

- Se pudesse não ganhar nada e ganhar esse título contra o preconceito, eu trocaria todos meus títulos por igualdade em todos os lugares, todas as áreas, todas as classes.

Não precisa nos dar mais nada em troca, Tinga. Teu exemplo é o suficiente.
Daniel Cassol


 

Artigo excelente de Mauro Iasi sobre os problemas da Copa! E mais: Marchinha de Carnaval!

Não vai ter Copa!


14.02.12_Mauro Iasi_Nao vai ter copa
O futebol é um esporte. Para quem pratica e para quem assiste costuma ser muito apaixonante e cumpre funções bem interessantes. Por exemplo, podemos sofrer, nos alegrar, chegar à exaltação, por motivos absolutamente irrelevantes: uma bola que passou perto, a polêmica marcação de uma penalidade, uma jogada de efeito ou mesmo uma absolutamente ridícula, uma cena magistral da mais pura arte que resulta em gol ou um caos de corpos e acidentes que culminam na bola rolando indolente ao cruzar a linha sob o olhar de milhares de pessoas.
O futebol, como tudo, foi capturado pela sociedade da mercadoria. Na sua forma mercadoria, seu valor de uso é subssumido pelo valor de troca. É só meio para realização de mais valor, para a valorização do capital. Desta maneira é espetáculo, não em seu conteúdo substantivo (nos elementos que o constituem como esporte ou na paixão que provoca), mas em sua própria forma.
O megaevento, a Copa da FIFA, é só a potencialização desta forma mercadoria levada ao máximo, com seus negócios, interesses, investimentos, mercados milionários, a indústria do turismo e outras que passam a ocupar a centralidade que antes o jogo ocupava. Soma-se a este fato a conjuntura em que ocorrem os jogos e sua utilização política como são famosos os exemplos das olimpíadas na Alemanha nazista e a Copa do Mundo na Argentina em 1978 na época da ditadura militar.
Por tudo isso a polêmica entre as “torcidas” que defendem que “vai ter Copa” ou que “não vai ter Copa” não pode ser compreendida apenas pela dimensão do evento esportivo em si mesmo, tampouco pelo simplismo da contraposição abstrata e insidiosa que procura contrapor “quem torce pelo Brasil” e aqueles que “torcem contra o Brasil”.
Em uma coluna de opinião publicada na Carta Maior um senhor chamado Antonio Lassance que se identifica como “doutor em ciência política e torcedor da seleção brasileira”, pretende dar argumentos para aqueles que querem defender a realização da Copa contra os que denomina de “profetas do pânico”.
Para o autor existe “uma campanha orquestrada contra a Copa do Mundo” que apesar de composta por poucos, tem conseguido “queimar o filme do evento”, arrastando muita gente que, mesmo sem ser virulenta e violenta, “acaba entrando no clima de replicar desinformações, disseminar raiva e ódio e incutir, em si mesmas, a descrença sobre a capacidade do Brasil dar conta do recado”.
Em resumo, seus principais argumentos são que aqueles que atacam o evento servem-se da desinformação. Sendo assim, o autor procura oferecer as informações “corretas” aos seus leitores. Diz ele: “Não conheço uma única pessoa que fale dos gastos da Copa e saiba dizer quanto isso custará para o Brasil. Ou, pelo menos, quanto custarão só os estádios. Ou que tenha visto uma planilha dos gastos da Copa”. Nós poderíamos apresentá-lo à algumas pessoas muito bem informadas, como a Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (ANCOP) ou indicar o site www.portalpopulardacopa.org.br , mas desconfio que ele não quer este tipo de informação. Prefere apenas dizer que é a maior parte dos recursos não são gastos em estádios (apenas 30% das verbas são destinadas a este fim), oferece alguns números como o custo total estimado em 26 bilhões, os investimentos públicos e privados em aeroportos, com segurança pública e outros). A esses argumentos agrega que os gastos com educação e saúde cresceram, independente da Copa e que o montante necessário não é prejudicado pelos investimentos no evento, da mesma forma que, segundo ele, os eventos deixam na maior parte do que foi feito um “legado”, tecendo um raciocínio estranho segundo o qual, por isso não importa se as obras estão ou não atrasadas. Por fim, reafirma sua crença que o Brasil pode dar conta de sediar os eventos e que a critica não passa de um sentimento de “vira lata” que está preso a uma autoimagem que coloca o país como um eterno incapaz, concluindo:
“Podem ocorrer problemas? Podem. Certamente ocorrerão. Eles ocorrem todos os dias. Por que na Copa seria diferente? A grande questão não é se haverá problemas. É de que forma nós, brasileiros, iremos lidar com tais problemas”.
Notem que se trata de munir os seus leitores de informações para contrapor um movimento que segundo seu próprio juízo está tendo sucesso em azedar o clima. Ele está, não sei se consciente ou não, respondendo a um chamado dos governistas que conclamaram recentemente tanto “intelectuais” de um lado e “movimentos sociais” de outro para intervir mais no jogo das redes de opinião diante da ofensiva do movimento “Não vai ter Copa”. Bom, digamos que ele não se mostrou um soldado muito bom, mas é representativo da indigência da defensiva governista diante de algo que não entenderam com a profundidade e seriedade necessárias. O próprio Lula expressou posições ainda mais primárias em vídeo que circulou na internet.
É no mínimo estranho que um governo que não teve por prática dialogar com movimentos sociais e que destrata os intelectuais, os convoque agora para encobrir seus problemas a golpe de discursos argumentativos nas redes sociais.
Se ele culpa a desinformação como principal arma dos profetas do pânico, teria que ter um pouco mais de cuidado com as informações em que se apóia, senão vejamos. O autor nos afirma que os gastos com o evento estavam estimados em 26 bilhões, mas oculta oportunamente que inicialmente foram orçados em 11 bilhões, já chegaram perto dos 28 bilhões e podem chegar a 33 bilhões, repetindo um enredo que já era conhecido se lembrarmos os dados sobre os gastos com os Jogos Panamericanos, que estavam previstos em 409 milhões e acabaram com algo perto de 4 bilhões ao final.
Em alguns estádios, se pegarmos casos particulares, como o Maracanã, as obras estavam previstas em 650 milhões e acabaram chegando perto de 2 bilhões com uma privatização no mínimo duvidosa no meio do processo. O mesmo se repete em outras obras, como o Mané Garrincha em Brasília (de 696 milhões para 1,7 bilhões). Um cientista político deveria saber que estas explosões orçamentárias não se devem a questões de engenharia e custo de materiais, mas a poderosos interesses de empreiteiras e outros que se locupletaram com a farra do boi das licitações de emergência (este sim um legado que vai ficar, como ficaram as obras do Pan).
Mas, como cabe ao discurso pequeno burguês, não se trata dos interesses reais de classe, mas do interesse maior: o da Nação. A pequena burguesia, disse Marx, inventou o conceito de Nação, porque ela própria fica pressionada entre os interesses reais das classes em luta e criou um espaço acima destes interesses mesquinhos, que a identifique com o povo e faça dela, a pequena burguesia, o legítimo interprete de seus verdadeiros anseios.
É por isso que os maldosos profetas do apocalipse ao atacar a copa e querendo atacar o governo, atacam o nosso Brasil. Diz o torcedor com diploma de doutor: “O pior dessa campanha fúnebre não é a tentativa de se desmoralizar governos, mas a tentativa de desmoralizar o Brasil”. Evidente que ia descambar para uma pregação nacionalista. Logo em seguida ela assume sua forma descarada:
“É claro que as informações deste texto só fazem sentido para quem as palavras ‘Brasil’ e ‘brasileiros’ significam alguma coisa [??]. Há quem por aqui nasceu, mas não nutre qualquer sentimento nacional, qualquer brasilidade; sequer acreditam que isso existe. Paciência. São os que pensam diferente que têm que mostrar que isso existe sim.”
A mágica da ideologia é apresentar o interesse particular como se fosse geral. Se o futebol espetacularizado e mercantilizado é meio de outros interesses – os dos grandes negócios não só dos jogos em si mesmos, mas dos gastos com as empreiteiras, a logística e uma infinidade de áreas de interesse do grande capital monopolista – ele se tornou também o meio pelo qual podem expressar-se as contradições e o descontentamento contra a fachada da imagem de sucesso que se projeta do caminho de pacto social escolhido. Não há um raciocínio simplista que acredita que um centavo gasto na Copa poderia ir para um hospital, é a critica absolutamente pertinente de que o caminho escolhido deixa soterrado contradições que mesmo invisibilizadas seguem existindo e pulsando. Queremos educação e saúde de qualidade, segurança, moradia, transporte e a opção escolhida de pacto com o grande capital condena estas áreas às sobras do prato principal servido ao capital financeiro e os generosos subsídios ao capital monopolista.
O que o articulista opina é que devemos separar as coisas. De um lado tem problemas no Brasil, mas a copa não tem nada a ver com isso. Sua cegueira é tamanha que lhe escapa o mais epidérmico do real. Existem cerca de 170 mil pessoas removidas por conta das obras da Copa, atingidas em seus mais elementares direitos humanos, sacrificados ao altar dos interesses das empreiteiras. Cinco trabalhadores da construção civil morreram nas obras, por causa da urgência, mas fundamentalmente das condições de trabalho, as mesmas precariedades já denunciadas nas obras do PAC. Eles tem nome: Marcleudo de Melo Ferreira de 22 anos, Raimundo Nonato Lima da Costa, 49 anos, José Afonso de Oliveira Rodrigues, de 21 anos, Fábio Luiz Pereira, 42 anos e Ronaldo Oliveira dos Santos, 44 anos.
As contradições são como a água que corre, sempre encontram um caminho para expressar-se. Nosso amigo está tentando parar o vazamento da represa com o dedo como aquele famoso caso do menino holandês. Seu dedo ideológico não é suficiente para deter a fúria das águas que ameaçam azedar a festa dos investidores e daqueles que queriam tirar dividendos políticos dos eventos.
Quando a represa estourar os sacerdotes do pacto pequeno burguês vão tentar encontrar alguém para botar a culpa (já começou no caso da lamentável morte do cinegrafista), mas a culpa certamente nunca é deles. Como dizia Marx:
“Como quer que seja, o democrata sai da derrota mais vergonhosa tão imaculado quanto era inocente ao nela entrar.” (O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, p.68).
É possível que o evento ocorra, até pela truculência da reação anunciada como a Portaria do Ministério da Defesa, mas vai ter que conviver como muita luta e manifestação. As patéticas iniciativas do governo de Dilma não chegaram nem perto dos graves problemas que estão na base desse fenômeno que explodiu em junho do ano passado. E não será agora que recuaremos.
Bom, vem aí o carnaval, esta outra festa popular que o povo cultua. Vai aí nossa contribuição no Bloco Comuna que Pariu que abrilhanta o carnaval carioca desde 2008. Para irmos esquentando os tamborins, aí vai nosso samba: A revolução foi a copa que pariu! E só para não esquecer: “NÃO VAI TER COPA!!!
http://www.youtube.com/watch?v=btP6YWLzRPo
No Carnaval
Ó nós de novo aqui na rua
Fora Cabral
E não tem gás que me destrua
Não leve a mal
Maraca tu vendeu pra tua
Patota que deixa o povo bolado
A coisa tá ruim pro teu lado
E pro bonde que segue sua Nau
Na hora que a massa chegar pra disputa
Não tem quem segure a maluca
O bicho vai pegar geral
Ei, Dudu [Eduardo Paes]
Vê se conta pra polícia
Como tomar no c… pode ser uma delícia
Não fode, FIFA
A CBF, a Globo e o capital (Não vai ter Copa!)
Sou comunista
Em vez de estádio quero ter mais hospital
Vandalizado
Pela miséria e a exploração
O povo tem que caminhar lado a lado
Pra derrubar todo esse Estado
E melar qualquer tapetão
Comuna que entra em campo, na luta
Empunha tua arma, batuca
No embalo da subversão
Taco pedra, faço greve
Levo bala de borracha
Chuto bomba o ano inteiro
Mas não tiro o pé da praça
Remoção pra tirania
Cada baqueta é um fuzil:
A Revolução Foi a Copa Que Pariu!
***
Mauro Luis Iasi é um dos colaboradores do livro de intervenção Cidades Rebeldes: passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil, organizado pela Boitempo. Com textos de David Harvey, Slavoj Žižek, Mike Davis, Ruy Braga, Ermínia Maricato entre outros. Confira, abaixo, o debate de lançamento do livro no Rio de Janeiro, com os autores Carlos Vainer, Mauro Iasi, Felipe Brito e Pedro Rocha de Oliveira:
Cidades Rebeldes_Jornadas
 
Confira a cobertura das manifestações de junho no Blog da Boitempo, com vídeos e textos de Mauro Iasi, Ruy Braga, Roberto Schwarz, Paulo Arantes, Ricardo Musse, Giovanni Alves, Silvia Viana, Slavoj Žižek, Immanuel Wallerstein, João Alexandre Peschanski, Carlos Eduardo Martins, Jorge Luiz Souto Maior, Lincoln Secco, Dênis de Moraes, Marilena Chaui e Edson Teles, entre outros!
***
Mauro Iasi é professor adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ, pesquisador do NEPEM (Núcleo de Estudos e Pesquisas Marxistas), do NEP 13 de Maio e membro do Comitê Central do PCB. É autor do livro O dilema de Hamlet: o ser e o não ser da consciência (Boitempo, 2002) e colabora com os livros Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil e György Lukács e a emancipação humana (Boitempo, 2013), organizado por Marcos Del Roio. Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às quartas.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

VIDEO SENSACIONAL - EM BUSCA DO OURO: A perda do direito ao esporte no Brasil

Título original: 'La perdida del derecho al deporte en el Brasil'.



Trata sobre o direito ao esporte no Brasil, sobre a verdadeira busca do "ouro" no cotidiano dos trabalhadores brasileiros.

Vídeo apresentado, pela primeira vez, na "II Asamblea Mundial de la Salud de los Pueblos", no dia 18 de julho de 2005, em Cuenca, no Equador.

Foi apresentado também em uma uma Mesa Praxis do Encontro Regional de Estudantes de Educação Física em Porto Alegre, em 2006.

O NEPEF da UFSC editou e foi socializado por Rodrigo Navarro no youtube.



 

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

MINISTÉRIO DO ESPORTE DIVULGA LISTA DE RESULTADOS PARA O PELC E VIDA SAÚDAVEL

Ministério divulga resultado provisório de propostas para os programas Pelc e Vida Saudável

Ao todo, foram classificadas 903 propostas de 25 estados brasileiros, considerando os 20 municípios de cada estado mais bem ranqueados. Destas, 328 foram selecionadas para o primeiro bloco de formalização (229 propostas para o Pelc Núcleos Urbanos, 16 de Núcleos para Povos e Comunidades Tradicionais e 83 propostas para o programa Vida Saudável).
 
Os municípios que tiveram suas propostas selecionadas para o primeiro bloco de formalização deverão realizar o cadastramento preliminar de formalização entre os dias 18 de fevereiro e 4 de abril. As propostas que não atenderem às exigências serão desclassificadas, sendo chamadas para o segundo bloco de formalização as demais propostas integrantes da ata do banco de propostas.
As dúvidas relacionadas ao processo devem ser encaminhadas para o endereço eletrônicoformalizacao.snelis@esporte.gov.br.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

FIFA E A ILEGALIDADE NO MUNDO DA BOLA

Fifa admite fraudes no mercado da bola
Por José Cruz

A partir da obscura venda de Neymar para o Barcelona, comentei na semana passada sobre a lavagem de dinheiro no futebol.
Polícia Federal, Interpol, Banco Central, Ministério da Justiça, o governo brasileiro, enfim, sabem sobre isso. Todos têm acesso a relatórios atualizados revelando que boa parte desses negócios suspeitos passa ao largo do fisco, sem reação oficial para conter o jogo dos espertos.
Oficial
Agora, é a Fifa que admite o drible suspeito nas transações, a voltinha no fisco:
“Cerca de R$ 4,8 bilhões por ano jamais aparece nas contas oficiais dos clubes, nos contratos dos jogadores nem nos revelados ao s fiscos dos países.” Quem conta essa história é o repórter Jamil Chade, no jornal O Estado de S.Paulo. Essa informação confirma o relatório do Banco Central sobre o assunto, aqui comentado há uma semana.
Mais
“… 40% de todo  movimento de dinheiro nas transferências de jogadores de futebol jamais são declarados, transformando o mercado mundial de craques num dos maiores canais de fluxo ilegal de dinheiro do mundo” … “Apenas em 2011, a Fifa registrou mais de 5 mil vendas e compras de jogadores, com uma movimentação de US$ 2,3 bilhões. Mas isso, segundo a Fifa, seria apenas parte da história e quatro de cada dez dólares negociados nunca aparecem nas contas oficiais”, escreveu Jamil Chade.
Contexto global
É nesse contexto que o futebol profissional e a Copa do Mundo, por extensão, precisam ser entendidos.  Torcedores vibram com as jogadas dos craques, com os gols espetaculares, envolve-se com a discussão sobre a arbitragem, o gol anulado, o impedimento que não existiu etc. Enquanto isso, os negócios milionários e suspeitos correm soltos. As vendas de Neymar e outros craques e a confusão sobre a queda da Portuguesa etc confirmam a tese.
O relatório do doutor em economia, Mauro Salvo, do Banco Central, mostra que esse mercado da bola se desenvolve no submundo da economia dos países com clubes famosos ou não.
Diz Mauro Salvo:
“As técnicas utilizadas para lavagem de dinheiro variam desde o básico até técnicas complexas, incluindo a utilização de dinheiro em espécie, transferências transfronteiriças, paraísos fiscais, empresas de fachada, profissionais não-financeiros e PEP´s, que são pessoas expostas politicamente.”
No Brasil
Esse último elemento é facilmente identificado no Brasil.  Por exemplo, a Comissão Especial da Câmara dos Deputados, que analisa o projeto de lei para anistiar R$ 4 bilhões de dívida fiscal dos clubes, o “Proforte'', é formada por bom número de deputados-cartolas. São as tais “pessoas expostas politicamente”, que utilizam a influência e imunidade de parlamentares em benefício de seus clubes sonegadores de impostos.
O deputado Jovair Arantes, que é o vice-presidente do Atlético Clube Goianense, preside a Comissão Especial.  Já o presidente desse clube, deputado Valdivino de Oliveira, também integra a Comissão Especial do Proforte, com voz influente. O autor de fato do projeto de lei do Proforte é o deputado Vicente Cândido, vice-presidente da Federação Paulista de Futebol. E por aí vai. Tudo com o apoio e consultoria escancaradas de assessores da CBF.
Enfim, é apenas mais um capítulo para entender a força e o apelo do futebol e os trambiques daí decorrentes. Este assunto continuará na pauta do blog, pois a Comissão Especial do Proforte voltará a se reunir já em fevereiro.

O AI-5 DO FUTEBOL

Projeto no Senado ressuscita AI-5, agora no futebol
Juca Kfouri

O ex-presidente da OAB do Rio de Janeiro, Wadih Damous usou a sua página no Facebook para qualificar como “o AI-5 do futebol” o projeto de lei 728/2011 de autoria dos senadores Marcelo Crivella (PRB-RJ), Ana Amélia (PP-RS) e Walter Pinheiro (PT-BA) proibindo greves no país durante os jogos da Copa do Mundo.
Além disso, o projeto inclui o “terrorismo” no rol de crimes com punições duras e penas altas para quem “provocar terror ou pânico generalizado”.
“Esse monstrengo, se virar lei, suspende a Constituição e, ao criar o tipo penal, totalmente aberto, de terrorismo, sepulta, de vez, o direito constitucional à manifestação pública”, afirma Damous.
O advogado lembra que o Estado brasileiro afirma que não se “curvará” à OEA, para processar e punir torturadores, em cumprimento a tratados internacionais firmados pelo Brasil.
No entanto – disse – se “ajoelha” diante da FIFA e se submete a aprovar leis de exceção ao nosso ordenamento constitucional”.
Damous não tem dúvida de que os combates que se avizinham serão duros.

O LEGADO ACADÊMICO E CIENTÌFICO DA COPA: PARA O MUNDO QUE A COPA VEM AI

CENTRO DE EXCELENCIA EM SALTOS ORNAMENTAIS NA UNB

Ministério do Esporte e UnB implementam Centro de Excelência em Saltos Ornamentais

 
Piscina do Centro de Excelência em Saltos Ornamentais, na UnB (Foto: Divulgação)
Em parceria com o Ministério do Esporte, a Universidade de Brasília (UnB) implementará em 2014 o primeiro Centro de Excelência em Saltos Ornamentais do Brasil. Com estrutura de treinamento para atender atletas de alto rendimento, o Centro terá, neste primeiro ano de atividades, 11 profissionais trabalhando diariamente no local para melhor desenvolvimento do projeto.

O Centro será o local de treinamento para a Seleção Brasileira de Saltos Ornamentais, com atletas olímpicos como Hugo Parisi, além de oferecer treinamento para atletas de categorias de base, com 20 crianças a partir de 8 anos, que serão selecionadas por profissionais do projeto nas escolas do Distrito Federal. Qualquer criança poderá participar da seletiva, inclusive ex-atletas de ginástica artística ou outras modalidades acrobáticas que estejam interessados em se tornar atletas de alto nível de saltos ornamentais.

O coordenador técnico do Centro de Excelência será o professor Ricardo Moreira, ex-aluno da UnB, técnico da Seleção Brasileira de Saltos Ornamentais desde 2002 e representante do país nos Jogos Olímpicos de Atenas-2004, Pequim-2008 e Londres-2012. “Nosso objetivo é tornar o Centro de Excelência em Saltos Ornamentais da UnB uma referência nacional para servir de modelo e ser implantado futuramente em outras universidades do Brasil”, afirma Ricardo.

Neste primeiro ano, serão oferecidos três cursos para estudantes e profissionais de educação física, sendo um dos palestrantes o treinador australiano Chava Sobriño, várias vezes medalhista olímpico como técnico da Seleção de Saltos Ornamentais da Austrália e do México. Também terá um curso de Formação de Novos Treinadores ministrado pelo técnico olímpico Giovani Casilo.

“O objetivo dos cursos será preparar novos treinadores especialistas em saltos ornamentais, pois a falta de técnicos capacitados é a maior deficiência do esporte no país. Em parceria com a Faculdade de Educação Física, também aproveitaremos os atletas e a estrutura da universidade para desenvolver pesquisas científicas relacionadas ao treinamento esportivo de alto nível”, comenta Ricardo.

 O valor total do projeto para 2014 dentro do Ministério do Esporte é de R$ 798.560,00, destinados à compra de equipamentos de última geração e contratação da equipe técnica. O Centro selecionará, até o dia 9 de fevereiro, treinadores de saltos ornamentais, preparador físico, professor de balé, fisioterapeuta, psicólogo e estagiários para trabalhar no projeto.

A seletiva dos atletas e das crianças que treinarão no Centro está marcada para o dia 22 de fevereiro e aqueles que desejarem obter mais informações devem enviar um e-mail para  excelencia@saltosbrasil.com.

Cronograma de inauguração do Centro de Excelência em Saltos Ornamentais

27/01 – Divulgação do Projeto pelo Ministério do Esporte e pela UnB
09/02 – Limite para envio de currículo da equipe técnica
22/02 – Seleção dos atletas - testes de aptidão física
07/03 – Seleção dos atletas – testes de aptidões específicas
18/03 – Lançamento do Projeto e apresentação dos atletas
24/03 – Início das aulas no Centro de Excelência
21, 22, 28 e 29/03 – Curso de Formação de Técnicos de Saltos Ornamentais
 
Fonte: Centro de Excelência em Saltos Ornamentais do Brasil/UnB
Ascom – Ministério do Esporte
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A COPA DO SR BURNS (BLATTER)!

A COPA DO SR. BURNS!
Por Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas

A Visa, uma das corporações internacionais patrocinadoras da Copa do Mundo, evocou a série de TV Os Simpsons para fazer uma das mais reveladoras peças de publicidade sobre o evento.

Na imagem, o personagem do Senhor Burns, o empresário crápula e multibilionário do seriado, posa para foto com cara de bonzinho, ao lado de outros personagens. Sr. Burns está em destaque, é o único de paletó e gravata, enquanto todos os outros estão com uma roupa de proteção contra radiação, um uniforme de trabalho. Ao fundo, duas chaminés da usina nuclear de Burns, que é conhecida pela exploração dos seus funcionários, pela falta de condições de trabalho e de segurança e pelo alto poder de poluição.

No slogan, a Visa diz: "Uma Copa do Mundo da FIFA™ no Brasil é como Visa. Todos são #bemvindos".

Então é tipo assim: depois de nos foderem, os "senhores Burns" da Copa estão nos chamando pra posar abraçadinhos ao lado deles, quem sabe até cantando "Eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor", pra ficar bonito. Que tal?


Foto: A COPA DO SR. BURNS!

A Visa, uma das corporações internacionais patrocinadoras da Copa do Mundo, evocou a série de TV Os Simpsons para fazer uma das mais reveladoras peças de publicidade sobre o evento.

Na imagem, o personagem do Senhor Burns, o empresário crápula e multibilionário do seriado, posa para foto com cara de bonzinho, ao lado de outros personagens. Sr. Burns está em destaque, é o único de paletó e gravata, enquanto todos os outros estão com uma roupa de proteção contra radiação, um uniforme de trabalho. Ao fundo, duas chaminés da usina nuclear de Burns, que é conhecida pela exploração dos seus funcionários, pela falta de condições de trabalho e de segurança e pelo alto poder de poluição.

No slogan, a Visa diz: "Uma Copa do Mundo da FIFA™ no Brasil é como Visa. Todos são #bemvindos".

Então é tipo assim: depois de nos foderem, os "senhores Burns" da Copa estão nos chamando pra posar abraçadinhos ao lado deles, quem sabe até cantando "Eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor", pra ficar bonito. Que tal?

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

BRASÍLIA NA COPA 2014

Reproduzo bom texto do Blog do Chico Sant'Anna sobre a participação de Brasília na COPA 2014


Fifa dá mais um drible nas pretensões de Brasília

Por Chico Sant’Anna
Brasília foi uma das 36 cidades ofertadas pelo Brasil para hospedar as seleções das 32 nações que estarão disputando o Mundial de 2014. Nenhum país optou pela cidade enquanto sede para a hospedagem e treinamento de suas equipes e delegações.
Cidades do interior paulista foram as preferidas, pois contam com estruturas bem montadas para treinamentos dos atletas, os chamados CTs. Nada menos do que quinze seleções estrangeiras vão se instalar e treinar no Estado de São Paulo. (Veja ao final a relação das cidades que hospedarão seleções estrangeiras).
A falta de estrutura de nível na Capital Federal, em especial centros de treinamentos de qualidade, teria sido o principal motivo da exclusão do DF. Quando Brasília foi escolhida para ser sede, chegou-se a pensar que esta poderia ser uma oportunidade para alavancar o Centro Olimpico da Universidade de Brasília, dotando-o de equipamentos de ponta. Mas ficou só na idéia. O Bezerrão, no Gama, também foi um local pensado.
Analistas informam também que, apesar das embaixadas estrangeiras estarem instaladas na Capital Federal, faltou ao GDF uma ação pró-ativa, contatando os diversos países e equipes, “vendendo o peixe” da cidade, como se diz popularmente. Teria ficado esperando o interesse estrangeiro.
O GDF de Agnelo e o governo federal venderam a Copa como uma fonte capaz de colocar Brasília no circuito internacional de turismo, trazer mais gringos e assim oxigenar a economia local com emprego e renda.
Para tanto, investiram quase R$ 2 bi num monstrengo de estadio que já tem goteiras.
Os famosos legados na área de transporte não vao acontecer. Expansão do Metro: a obra nem começou e está há dois anos atrasada. O VLT, idem. E tudo isso com o governo federal assegurando a verba necessária às obras dentro do Pac da Mobilidade e o da Copa. Ganhamos um corredor expresso de ônibus que destruiu o Balão do Aeroporto, e que está atrasado há pelo menos seis meses. Não é certo que esteja em operação antes de a bola rolar.
A Copa das Confederações atraiu a Brasilia, menos de 500 turistas estrangeiros. E tudo indica que serão os brasileiros a maioria dos torcedores nos jogos do Mané Garrincha.
A decisão por parte das seleções estrangeiras, pela qual nenhuma das 32 equipes optou em se hospedar no DF é mais um baque na economia, pois serão menos turistas, menos jornalistas, menos empregos em bares e restaurantes, menos renda.
O GDF, que fez um estádio para 70 mil pessoas, tinha a fantasia de poder abrir a copa do mundo. Não conseguiu. Depois, pensou em ser a sede da mídia internacional, perdeu pro Rio de Janeiro. Em seguida, sonhou com a cerimoniazinha do sorteio das chaves, também dançou. Mais do que simples agendas e etapas do Mundial, todos são eventos que poderiam carrear milhões de dolares e dar mais visibilidade à cidade.
Mas o governo Agnelo não teve força política para materializar suas ambições. Nem junto a Fifa, nem junto a Dilma Russef.
Os turistas virão, quase que exclusivamente, para ver os jogos. Já há pacotes em que o torcedor chega no aeroporto, será transferido a um ônibus especial que o levará direto ao estádio para ver o jogo. E, ao seu término, de volta ao aeroporto.
Nada de se hospedar na cidade, gastar nos shoppings, ir na Feira da Torre, visitar os pontos turisticos. Nem churrasquinho de gato. Comes e bebes, só dentro do estádio, todo ele sob o monopólio da Fifa. Os ônibus também já foram reservados pelas empresas da Fifa.
Ou seja, de legado, teremos dois bilhões em despesas do Mané Garrincha, que poderiam ter reforçado a Saúde, Educação e Segurança, além da mobilidade urbana, tudo muito precário nesta administração.
Confira abaixo onde cada seleção vai treinar:
Alagoas
Gana: Maceió
Alemanha vai se concentrar em resort em Santa Cruz de Cabrália Foto: Reuters
Alemanha vai se concentrar em resort em Santa Cruz de Cabrália
Foto: Reuters
Bahia
  • Alemanha: Santa Cruz de Cabrália
  • Croácia: Mata de São João
  • Suíça: Porto Seguro
Espírito Santo
  • Austrália: Vitória
  • Camarões: Vitória
Minas Gerais
  • Argentina: Belo Horizonte
  • Chile: Belo Horizonte
  • Uruguai: Sete Lagoas
Paraná
  • Coreia do Sul: Foz do Iguaçu
  • Espanha: Curitiba
Rio de Janeiro
  • Brasil: Teresópolis
  • Holanda: Rio de Janeiro
  • Inglaterra: Rio de Janeiro
  • Itália: Mangaratiba
Rio Grande do Sul
  • Equador: Viamão
São Paulo
  • Argélia: Sorocaba
  • Bélgica: Mogi das Cruzes
  • Bósnia e Herzegovina: Guarujá
  • Colômbia: Cotia
  • Costa do Marfim: Águas de Lindoia
  • Costa Rica: Santos
  • Estados Unidos: São Paulo
  • França: Ribeirão Preto
  • Honduras: Porto Feliz
  • Irã: Guarulhos
  • Japão: Itu
  • México: Santos
  • Nigéria: Campinas
  • Portugal: Campinas
  • Rússia: Itu
Sergipe
  • Grécia: Aracaju
Às 17h50, do dia 15/01, recebi uma nota de esclarecimento da  Coordenadoria de Comunicação para a Copa, um órgão do GDF, a qual transcrevo abaixo. A nota oficial está em azul e em preto os comentários deste blogueiro
logo secopa
NOTA DE ESCLARECIMENTO
 Brasília, 15 de janeiro de 2013.
 Em relação à nota publicada nesta quarta-feira (15/01) no blog do Chico Santanna, a Coordenadoria de Comunicação para a Copa (ComCopa) esclarece que:
 CENTROS DE TREINAMENTO
Não é verdade que Brasília firmou compromissos com o objetivo de hospedar as seleções que disputarão o Mundial de 2014. Nem houve projeto de reforma do Centro Olímpico da UnB. O blog novamente mistura informações e cria a falsa impressão de que Brasília não se preparou para a Copa do Mundo.
Os investimentos realizados com o objetivo de oferecer centros de treinamento durante a Copa do Mundo foram iniciativas do setor privado em todo o país, que apostou nas oportunidades de desenvolvimento geradas pelo Mundial.
Não se tratava, portanto, de uma obrigação do GDF para o evento. A atual gestão assegurou infraestrutura necessária para receber o número máximo de jogos da Copa e, com isso, abriu as portas da capital federal para a agenda internacional de grandes eventos.
A Coordenadoria de Comunicação da Copa, parece não ter lido com atenção a menção feita à UnB, por isso a transcrevo novamente aqui:
“Quando Brasília foi escolhida para ser sede, chegou-se a pensar que esta poderia ser uma oportunidade para alavancar o Centro Olimpico da Universidade de Brasília, dotando-o de equipamentos de ponta. Mas ficou só na idéia.”
Não há qualquer menção quanto a quem financiaria tal projeto. Quanto a ambição da UnB ter sido um centro de treinamento para alguma das seleções, clique aqui e veja matéria publicada, em 8/11/2010, pela própria agência de notícias da UnB. A obra de melhorias era estimada em R$ 303 milhões.
 Não há, portanto, nenhuma inverdade afirmada pelo autor, como alega a secretaria de Comunicação da Copa. 
CIRCUITO MUNDIAL
Brasília já entrou no circuito internacional dos grandes eventos esportivos. Em 2016, Brasília será Subsede Olímpica, recebendo eventos do futebol feminino e modalidades náuticas. A Capital da República também vai sediar, em 2019, a Universíade, que reúne atletas universitários de todo o mundo, e o estádio teve um papel importante na escolha da cidade.
São dois grandes exemplos de que o GDF acertou ao construir o Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, que não é apenas o mais novo monumento da cidade, mas gera riqueza, o que beneficia direta e indiretamente diversos setores da sociedade, inclusive saúde e educação.
O GDF, segundo a nota da Cordenadoria de Comunicação da Copa, deseja agora justificar a construção do mega estádio com eventos que irão acontecer a partir de 2016. A Copa das Confederações já se mostrou impotente para atrair turistas estrangeiros a Brasília. Foram menos de 500 pessoas, e o governo local agora aposta nas Olimpíadas de 2016. 
TURISMO INTERNACIONAL
O blog erra em sua projeção sobre a presença de turistas durante o Mundial de futebol. Pesquisa da FGV aponta que no período da Copa, quando Brasília receberá sete jogos, 600 mil turistas passarão pela cidade, sendo 400 mil brasileiros e 200 mil estrangeiros. O mesmo estudo também revela um aporte de R$ 4 bilhões na economia do DF com o evento.
É dificil dizer quem está certo: se o Ministério do Turismo, ao afirmar que para a toda a Copa do Mundo virão ao Brasil 600 mil turistas estrangeiros. Repito, para todo o país. Ou, se o GDF, que afirma acima que 200 mil estarão em Brasília, não sendo a cidade palco nem da abertura nem da partida final do evento.
Junho está chegando e será possível saber quantos turistas estrangeiros efetivamente terão vindo à Capital Federal.  Outro dado que o GDF não menciona, é a expectativa de permanência destes turistas na cidade. Serão horas ou dias?
RECORDE DE PÚBLICO
O blog também ignora informações amplamente divulgadas sobre os números alcançados com a agenda do Mané Garrincha, acima da média nacional. Em sete meses de operação, teve a maior média de público por partida de futebol. Recebeu mais de 640 mil pessoas em 27 eventos e garantiu um retorno imediato de R$ 3 milhões aos cofres do DF.
O blog focou sua análise no mundial de futebol. A coordenadoria informa que o GDF arrecadou com o estádio R$ 3 milhões aos cofres do GDF, deixa de informar, contudo, que as partidas do Campeonato Brasileiro realizadas em Brasília tiveram renda de R$ 25.638.225. Ou seja, o Mané Garrincha está virando uma máquina de exportar dinheiro, já que os clubes do Rio de Janeiro e São paulo voltaram para as suas cidades com cerca de R$ 22 milhões da poupança do brasiliense.
Também não fala das reformas que estão sendo necessárias para sanar, dentre outros problemas, as goteiras já existente no estádio, cuja cobertura custou a bagatela de R$ 209 milhões , ao contribuinte do Distrito Federal.
CUSTOS DO ESTÁDIO
Ressaltamos, mais uma vez, que o investimento realizado pelo Governo do Distrito Federal na construção do estádio Mané Garrincha foi de R$ 1,4 bilhão, sendo que sobre essa quantia está prevista a aplicação do redutor do Recopa. Dessa forma, o valor final da obra ficará em aproximadamente R$ 1,2 bilhão, e não quase R$ 2 bilhões, como publicado na reportagem.
Traduzindo para o leitor, “redutor copa” significa isenção de impostos.
O GDF quer reduzir o custo final do estádio, alegando uma potencial isenção fiscal, ainda não assegurada definitivamente ao DF, referente aos valores que deveriam entrar nos cofres públicos a titulo de impostos. O dinheiro que não entraria numa porta, poderia até reduzir nominalmente o preço da obra, mas este mesmo valor deixará de entra pela outra porta que é o caixa da receita pública. Arquiteturas contábeis.
 R$ 4 BILHÕES PARA O DF
Destacamos, ainda, que para cada R$ 1 investido na arena, o Governo do Distrito Federal assegurou outros R$ 3 para infraestrutura, mobilidade urbana e segurança em todo o DF, o que ficará como legado dos grandes eventos para a cidade.
São R$ 4 bilhões em recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, somados ao orçamento local, que foram destinados ao Distrito Federal, por ser Brasília cidade-sede da Copa do Mundo. Os projetos estão em execução, dentro do previsto.
Entre eles, a ampliação da DF-047, obra que integra a Matriz de Responsabilidades para a Copa e não destruiu o balão do aeroporto, como afirma o blog. A região concentra dois projetos de alta relevância para a mobilidade urbana do DF, setor que recebe investimentos pesados do GDF, ao contrário do que sugere a reportagem. Milhares de passageiros serão beneficiados com a conclusão dos projetos, que ocorrerá antes da Copa. Os prazos corretos são omitidos pelo blog, da mesma forma que as ações inéditas em setores como Educação e Segurança, além da Saúde, que já recebeu em recursos para melhorias, neste governo, cinco vezes o valor total investido no Mané Garrincha.
Se o balão do aeroporto foi destruído ou não, deixo o juizo de valor ao leitor, que pode observar as fotos clicando neste link.
Quanto às datas de inauguração da obra do BRT, estas já foram adiadas duas vezes e existem fotos das placas oficiais para comprovar.
De fato, como dito no texto pelo blogueiro, o governo federal alocou importantes somas de valores para obras de mobilidade, mas estas obras não estão saindo do papel.
A expansão do metrô à Asa Norte, Ceilândia e Samambaia, com mais 7,5 quilômetros de extensão e cinco novas estações, que deveria ter sido entregue no final do ano passado, segundo informava a própria página na internet da Cia do Metrô, ainda, nem começou. Também não teve início a obra do VLT, que ligaria o Aeroporto ao Plano Piloto
Samanta Sallun
Coordenadora de Comunicação para a Copa
O pessoal da Coordenadoria de Comunicação para a Copa está trabalhando muito. E estou contente que são fieis leitores deste blog, o que me deixa muito grato.
Pois bem, às 23h58, do dia 16 – quase meia-noite, olha a hora extra e o adicional noturno gente – recebi da Coordenadoria um complemento aos esclarecimentos acima postados, alguns delesrelativos a tréplica por mim apresentada. Transcrevo na íntegra, abaixo, a segunda nota do GDF e entendo que as informações que deveria postar já as foram feitas e demonstradas, que esta segunda nota apenas reafirma as informações que publiquei, cabendo ao leitor fazer seu juizo de valor. Não havendo, portanto, necessidade de se gerar um vai-e-vem de réplicas e tréplicas.
A nota da Coordenadoria, como antes, segue em azul.
Brasília, 16 de janeiro de 2013.
 
Sobre a publicação “FIFA dá mais um drible nas pretensões de Brasília”, a Coordenadoria de Comunicação para a Copa (ComCopa) novamente esclarece ao blog que:
Os números relativos à renda das partidas realizadas no Mané Garrincha foram amplamente divulgados e podem ser consultados pelos leitores no Portal Brasília na Copa, que tem entre seus destaques a reportagem “Estreia campeã”. Os dados a que o blog Brasília por Chico Santanna se refere são justamente resultado do levantamento produzido e publicado pela ComCopa.  
Também esclarecemos ao blog e aos seus leitores que a construção do Mané Garrincha tem garantia de CINCO ANOS. Qualquer reparo na estrutura, realizado nesse período, está isento de pagamento pelo GDF. Não há reforma e nem custo adicional.
Esclarecemos também que a proposta de reforma do Centro Olímpico da Universidade de Brasília está inserida na agenda da cidade para a Universíade, que ocorrerá na capital federal em 2019. O blog faz menção às primeiras tratativas para execução das melhorias, quando o projeto se tornou público, mas omite definições posteriores. A obra será um dos grandes legados da Universíade, cuja realização em Brasília ocorre graças à demonstração de que a cidade já possui equipamentos públicos de alto padrão para o evento, como o Mané Garrincha. 
Por fim, informamos que a ComCopa é uma Coordenadoria, não Secretaria de Comunicação para a Copa. (Já fiz a devida correção no texto de secretaria para coordenadoria)
Samanta Sallun
Coordenadora de Comunicação para a Copa