segunda-feira, 2 de novembro de 2015

LAZER E CIDADANIA: Projeto de alunos do 9o ano transforma terreno abandonado em espaço de lazer

Projeto de alunos do 9º ano transforma terreno abandonado em espaço de lazer

Bosque Xerife, em Parelheiros, foi idealizado por estudantes da EMEF Vargem Grande e ganhou equipamentos para atividades de pessoas de todas as idades

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PARA REFLETIRMOS OS OBJETIVOS DE SER PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SOBRE O FUTURO DE NOSSA PROFISSÃO

Pesquisadores geram polêmica com promessa de 'pílula do exercício físico'

BBC
Lucía Blasco

Alguns temem aumento do sedentarismo e outros afirmam que poderia ser usado em casos de invalidez ou obesidade
Alguns temem aumento do sedentarismo e outros afirmam que poderia ser usado em casos de invalidez ou obesidade
Cientistas de universidades da Dinamarca e Austrália anunciaram estar se aproximando da criação de uma pílula que imita os efeitos do exercício físico no corpo humano.
As últimas pesquisas permitiram descobrir, pela primeira vez, o que realmente acontece dentro dos músculos no nível molecular quando praticamos esportes.
"Esta nova descoberta servirá para criar uma pílula que imita os efeitos do exercício físico e recria estas ações em nosso corpo", disse à BBC Mundo Erik Ritcher, diretor do Departamento de Fisiologia Molecular da Universidade de Copenhague. O projeto dinamarquês está sendo realizado em conjunto com o Charles Perkins Centre de Sidney, na Austrália.
Jorgen Wojtaszewski, outro pesquisador envolvido no projeto, afirma que esta "pílula do exercício" poderia ser útil para "pessoas com graves problemas de invalidez ou obesidade mórbida".
O anúncio gera muita polêmica: alguns mais esperançosos podem imaginar que, no futuro, a pílula pode substituir horas de academia ou corrida, mas os especialistas consultados pela BBC Mundo estão mais céticos e alguns até estão preocupados.
Alguns especialistas em esportes temem que a comercialização deste tipo de medicamento estimule ainda mais o sedentarismo que já um dos grandes problemas atuais.
"A mensagem que a população está recebendo é muito enganosa, igual às das dietas milagrosas", disse à BBC a pesquisadora Nuria Garatachea, doutora em Ciências da Atividade Física e Esporte e uma das autoras do ensaio científico Exercise is the Real Polypill ("O Exercício é o Verdadeiro Policomprimido", em tradução livre).
Nuria afirma que a comercialização desta "pílula do exercício" poderia ser "prejudicial para a sociedade" porque "corremos o risco de que a população fique ainda mais sedentária".
"O exercício físico é muito variado e, no entanto, ainda falta muito para descobrirmos sobre os efeitos das vias moleculares que se ativam em nosso organismo quando o praticamos."
"Temos uma ferramenta muito poderosa em nossas mãos que é o exercício físico. Levamos milhões de anos praticando-o e agora queremos renunciar a ele?"
"Não estamos programados para estar sentados; nosso DNA nos pede exercício, (em termos de) biomecânica e energia", afirmou.
Cada vez mais próximo
O pesquisador dinamarquês Erik Richter afirmou que "as pesquisas estão avançando cada vez mais" e o novo enfoque das últimas descobertas tornará possível o desenvolvimento de uma pílula do exercício apesar de "tudo depender das próximas pesquisas e do apoio que conseguirmos".
A nova pesquisa revelou "mais de mil reações musculares - até agora desconhecidas - nos músculos que estão expostos à atividade física", segundo fontes da Universidade de Copenhague.
Os cientistas utilizaram uma técnica chamada espectrometria de massas, um método avançado para identificar moléculas. Eles analisaram biópsias moleculares em quatro homens saudáveis antes e depois da realização de 10 minutos de exercícios intensos.
As experiências continuam.
"Agora temos que descobrir quais destas moléculas são as mais importantes e têm uma relação maior com a saúde e o exercícios", disse Richter.
"Para isso estamos realizando experiências com animais geneticamente modificados em colaboração com a Universidade de Sydney."
Insubstituível
Os especialistas em saúde e esporte consultados pela BBC, no entanto, não aprovam nenhum tipo de substituição dos exercícios.
Para muitos, uma pílula jamais poderia substituir todos os efeitos, incluindo o psicológico, dos exercícios
"O exercício é insubstituível e uma pílula não poderia substituir seus efeitos", disse à BBC Mundo Jesús María Pérez, gerente do Conselho Geral de Colégios de Profissionais da Educação Física e Esporte (Colef) da Espanha.
"Uma pílula não poderia substituir o exercício em competências funcionais - movimento - variáveis psicológicas - ansiedade, depressão, fadiga ou autoconfiança - e nos fatores sociais derivados da prática esportiva regular."
"No mundo da condição física e nas ciências do esporte há muitos mitos e produtos de marketing que oferecem milagres que não estão baseados em provas científicas", acrescentou.
A Universidade de Sydney emitiu uma nota afirmando que a descoberta "ajudará a revelar novos mecanismos biológicos relativos ao exercício e será uma fonte fundamental para futuras investigações fisiológicas".
Mas Carlota Díez, especialista em saúde do esporte, afirma que o verdadeiro problema está na maneira com que este tipo de mensagem é difundida.
Em seu comunicado, a Universidade de Copenhague afirmou que a pesquisa "nos deixa mais próximos do exercício em forma de pílula".
"Talvez, inicialmente, poderia conseguir alguns efeitos comparáveis aos da atividade física, mas há outros que não são possíveis de se conseguir", disse.
'Os efeitos negativos estariam diretamente relacionados com hábitos saudáveis e de qualidade de vida."
"Se um comprimido de exercício for comercializado como tal, conseguiria o aumento do sedentarismo, da obesidade e da inatividade física", afirmou.
"Talvez conseguiria uma melhora no nível muscular, mas faltariam muitas outras coisas, por exemplo, no nível cardiovascular, como é o consumo de oxigênio."
"Estaríamos perdendo mais da metade dos benefícios do exercício físico", disse.
A especialista admite que este tipo de medicamento poderia ter vantagens para pessoas com problemas como tetraplegia ou outros problemas graves de mobilidade, mas é "preciso deixar claro que a pílula não poderia ser para todo mundo, só deveria ser tomada se existe um problema real".

Fonte: http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/bbc/2015/11/01/pesquisadores-geram-polemica-com-promessa-de-pilula-do-exercicio-fisico.htm

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

PALAVRAS DO POETA: O FUTEBOL AO SOL E À SOMBRA

O futebol
O FUTEBOL

A história do futebol é uma triste viagem do prazer ao dever.
Ao mesmo tempo em que o esporte se tornou indústria, foi desterrando a beleza que nasce da alegria de jogar só pelo prazer de jogar.
Neste mundo do fim de século, o futebol profissional condena o que é inútil, e é inútil o que não é rentável.
Ninguém ganha nada com essa loucura que faz com que o homem seja menino por um momento, jogando como o menino que brinca com o balão de gás e como o gato brinca com o novelo de lã:
bailarino que dança com uma bola leve como o balão que sobe ao ar e o novelo que roda, jogando sem saber que joga,
sem motivo, sem relógio e sem juiz
.
O jogo se transformou em espetáculo, com poucos protagonistas e muitos espectadores, futebol para olhar, e o espetáculo se transformou num dos negócios mais lucrativos do mundo, que não é organizado para ser jogado, mas para impedir que se jogue.
A tecnocracia do esporte profissional foi impondo um futebol de pura velocidade e muita força, que renuncia à alegria, atrofia a fantasia e proíbe a ousadia.
Por sorte ainda aparece nos campos, embora muito de vez em quando, algum atrevido que sai do roteiro e comete o
disparate de driblar o time adversário inteirinho, além do juiz e do público das arquibancadas, pelo puro prazer do corpo que se lança na proibida aventurada liberdade.

(Eduardo Galeano)

ESTAMOS VIVOS: SOBRE A ESCASSA ATUALIZAÇÂO DO BLOG DO PEDRO TATU

Olá pessoal,

Depois de muito tempo venho até essa página explicar um pouco a falta de atualizações recentes.

Realmente os últimos dois anos não tem sido fácil mantê-la atualizada devido a problemas de ordem pessoal.

No entanto, temos muitos projetos futuros para esse canal de comunicação.
Pretendo na medida do possível, ir retomando o blog aos poucos.

Agradeço de antemão àqueles que mesmo sabendo da não atualização frequente desse espaço ainda mantém o hábito de visitá-lo na esperança de ter acesso as "coisas novas" da área.

Mantenho esse espaço para que colegas que tenham artigo de opinião e sugestões de "pautas " e "notícias"...Portanto, sintam-se a vontade para entrar em contato comigo a respeito.

Grande abraço a todos e todas
Pedro Osmar Flores de Noronha Figueiredo (Tatu)

quarta-feira, 1 de julho de 2015

FORA CREF DA ESCOLA: Vitória em São Paulo


Vitória: MP e TJ de São Paulo reconhecem que professor de educação física não precisa de registro no Cref

Uma importante vitória para os docentes foi compartilhada com a Contee pelo presidente do Sinpro-SP, Luiz Antonio Barbagli, após ser dada pelo despacho da juíza Tânia Magalhães Avelar Moreira da Silveira, da 1ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, determinando o arquivamento de um processo contra um professor de educação física, acusado equivocada e injustamente de exercer a profissão sem preencher as condições legais.
A Justiça acatou pedido de arquivamento feito pelo Ministério Público, o qual apurou que fiscais do Conselho Regional de Educação Física compareceram ao Colégio Nossa Senhora do Rosário, na capital paulista, em março do ano passado, onde o professor de educação física estava em atividade, sem registro profissional no referido Conselho.
Acontece que, como bem exposto pelo Ministério Público, para o exercício do magistério “a lei atual exige do professor, única e exclusivamente, habilitação específica para o exercício do ofício, dispensando qualquer tipo de registro”. Ainda segundo a manifestação do MP, o controle do exercício do magistério “está sob fiscalização direta do Poder Público, através do Ministério da Educação, da Cultura e do Desporto e dos órgãos do Conselho Nacional de Educação, nos termos da própria Constituição Federal”, não podendo, portanto, “ser controlado por um Conselho Profissional, quer como órgão público vinculado à administração pública indireta, quer como entidade privada, prestadora de serviços, por delegação do próprio Estado”.
Em agosto do ano passado, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) proferiu decisão mantendo a desobrigação da filiação no Conselho Regional de Educação Física (Cref) dos professores de educação física no exercício do magistério. Na ocasião o STJ negou recurso especial interposto pelo Cref da 2ª Região, mantendo as decisões de primeiro e segundo graus, anteriormente proferidas no processo em que o Sinpro/RS, filiado à Contee, é autor.
Agora, o coordenador da Secretaria de Assuntos Jurídicos da Contee, João Batista da Silveira, ressaltou a importância de mais essa decisão, já que a manifestação do MP e o arquivamento do processo em São Paulo novamente se comunicam com todo o país onde os conselhos de educação física e outros conselhos profissionais querem exigir a filiação dos professores para que estes possam dar aula.
Fonte:http://contee.org.br/contee/index.php/2015/06/vitoria-mp-e-tj-de-sao-paulo-reconhecem-que-professor-de-educacao-fisica-nao-precisa-de-registro-no-cref/#.VZMWimxRHIVhttp://contee.org.br/contee/index.php/2015/06/vitoria-mp-e-tj-de-sao-paulo-reconhecem-que-professor-de-educacao-fisica-nao-precisa-de-registro-no-cref/#.VZMWimxRHIV

quarta-feira, 27 de maio de 2015

BARÕES DA FIFA E CBF PRESOS: LUGAR DE BANDIDO É NA CADEIA E NÃO NO FUTEBOL

Operação na Suíça prende José Maria Marin e mais seis executivos da Fifa

Às vésperas do congresso anual da Fifa, executivos da entidade foram detidosA dois dias da eleição para a presidência, um terremoto sacode a Fifa. Na madrugada desta quarta-feira, horário brasileiro, uma operação especial das autoridades suíças, sob liderança do FBI, prendeu sete executivos importantes da entidade sob a acusação de corrupção, entre eles José Maria Marin, ex-presidente da CBF. O grupo dos detidos será extraditado para os Estados Unidos a fim de uma maior investigação sobre o assunto na federação mais importante do futebol mundial.
Segundo nota oficial do Departamento de Justiça norte-americano, 14 réus são acusados de extorsão, fraude e conspiração para lavagem de dinheiro, entre outros delitos, em um "esquema de 24 anos para enriquecer através da corrupção no futebol". Sete deles foram presos na Suíça. Além de Marin, Jeffrey Webb, Eduardo Li, Julio Rocha, Costas Takkas, Eugenio Figueredo e Rafael Esquivel. Um mandado de busca também será executado na sede da Concacaf, em Miami, nos EUA.
O brasileiro J.Hawilla, dono da Traffic, conhecida empresa de marketing esportivo, é um dos réus que se declararam culpados, assim como duas empresas de seu grupo, a Traffic Sports International Inc. and Traffic Sports USA Inc. Em dezembro de 2014, segundo a justiça dos EUA, ele concordou em devolver mais de 151 milhões de dólares, sendo que US$ 25 mi foram pagos na ocasião. As acusações são de extorsão, fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução de justiça.
Além de Hawilla, também se declararam culpados o norte-americano Charles Blazer, ex-secretário-geral da Concacaf e ex-representante dos EUA no Comitê Executivo da Fifa; Daryan e Daryll Warner, filhos do ex-presidente da Fifa, Jack Warner.
As polêmicas eleições para as sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022, que escolheram, respectivamente, Rússia e Catar, como sedes são centro das investigações. No segundo pleito, o mais controverso, os Estados Unidos buscavam o direito de receber o torneio.De acordo com informações publicadas pelo jornal NY Times, mais de uma dúzia de policiais suíços à paisana chegaram sem aviso prévio ao Baur au Lac Hotel, local no qual executivos se hospedavam para o congresso anual da organização, marcado para os dias 28 e 29 de maio, e renderam os acusados de corrupção em ação pacífica, sem menor resistência dos envolvidos.
A ação policial desta manhã de quarta-feira na Suíça terá um grande efeito nos próximos dias da entidade, que marcou para esta sexta-feira a eleição de um novo presidente. Novo, em teoria. Joseph Blatter, no comando da Fifa desde 1998, surgia como o grande favorito para mais um mandato; o suíço possuía apenas a concorrência de Ali bin Al-Hussein, príncipe da Jordânia.
O ex-jogador português Luís Figo, que fez história com a seleção do país e as camisas de Real Madrid e Barcelona, também aparecia como candidato até a semana passada. Entretanto, o antigo atleta desistiu do pleito e acusou a Fifa de ser gerida como uma 'ditadura'. O dirigente holandês Michael Van Praag também lançou campanha, mas também se retirou. 
FONTE:
http://espn.uol.com.br/noticia/513232_operacao-na-suica-prende-jose-maria-marin-e-mais-seis-executivos-da-fifa
MAIS SOBRE:
http://www.theguardian.com/football/2015/may/27/several-top-fifa-officials-arrested

domingo, 17 de maio de 2015

ENTREVISTA: SAVIANI

Aprender a aprender: 


um slogan para a ignorância


«Essa ideia da liberdade do aluno, liberdade de aprendizagem, é um enunciado ideológico. O aprendiz nunca é livre. Ele só é livre depois de dominar o objecto de aprendizagem; e quando domina deixou de ser aprendiz», afirma o pedagogo marxista brasileiro Dermeval Saviani, numa entrevista que lhe fizeram Raquel Varela e Sandra Duarte para a Rubra n.º 3 e que fui repescar para contribuir para este interessante debate sobre a educação iniciado pela Mariana Canotilho. Aqui vai a entrevista completa:
Qual é o papel da escola?
O papel da escola é o de ser o ambiente adequado para que o professor possa exercer da melhor forma possível o seu papel.
E qual é o papel do professor?
O papel do professor é elevar os alunos do nível não elaborado, do nível do conhecimento espontâneo, de senso comum, para o nível do conhecimento científico, filosófico, capaz de compreender o mundo nas suas múltiplas relações e portanto, passar da visão empírica, fragmentada do Mundo, para uma visão concreta, articulada.
Quem são, politicamente falando, os defensores da pedagogia do «aprender a aprender»?
Hoje em dia a pedagogia do «aprender a aprender» é a grande referência da orientação dominante. Tanto que está nos documentos oficiais e internacionais que depois se reproduzem em cada nação, como está nos meios de comunicação onde tentam convencer os professores das suas virtudes. O Relatório Jacques Delors das Nações Unidas sobre educação para o século XXI tem como eixo essa orientação do «aprender a aprender» e os países reproduzem isso nas suas políticas educativas. É uma pedagogia que tem origem na escola nova, no construtivismo de Piaget, que estava apoiado no keynesianismo. Agora foi recuperada, no contexto político do neoliberalismo, pelos pós-modernos. A ideia é que todo o ambiente é educativo – aprende-se em diferentes lugar, em diferentes circunstâncias e … também na escola! O argumento que dão para isso é que aquela visão rígida foi superada em benefício de uma sociedade flexível em que nada se pode prever. A escola não pode formar para 5 ou 10 anos, não se sabe como vai ser o futuro que está em constante mudança. Portanto a escola não deve ensinar algo mas apenas aprender. Mas este novo aprender a aprender já nem sequer dá a importância que os construtivistas davam à ciência. Não sei como é aqui, mas no Brasil introduzem parâmetros curriculares nos temas «transversais» – é como se os temas não fossem objecto desta ou daquela disciplina mas atravessam todo o currículo – educação cívica, moral, ambiental, sexual.
Nos seus livros defende que deve haver uma diferença clara entre currículo e extra currículo?
As actividades devem integrar as actividades da escola desde que elas colaborem para aquilo que é central no currículo. Não se pode apagar essa diferença, como fazem os pós-modernos, para quem tudo tem a mesma importância. Fazer um passeio na cidade e estudar matemática não tem a mesma importância.
O que pensa da memória, da repetição, no processo de ensino?
Esse é um outro aspecto que me parece importante. As teorias psicológicas modernas e pós-modernas tendem a secundarizar a memória enquanto faculdade psicológica e a repetição enquanto estratégia pedagógica. Mas isso é algo que as pesquisas psicológicas de base dialéctica, marxistas, como a da escola de Vigotsky, questionam. Elas mostram o papel da memória e da repetição no desenvolvimento. Eu elaborei algo nessa direcção não pela via das teorias psicológicas mas pela via da observação dos processos pedagógicos. A tese de que a criatividade é o oposto da mecanização, da automatização, não se sustenta porque essa visão dá à criatividade um carácter espontaneísta, como se a pessoa pudesse ser criativa a partir do nada. O que se constata no processo de desenvolvimento das crianças, da própria formação, é que a fixação de mecanismos não é impeditiva da criatividade, pelo contrário, é condição da criatividade.
Um músico só é livre de compor, livre de ser criativo, depois de muitos anos de estudo…
Sim, outro exemplo que dei é o do aprender a dirigir o automóvel. Enquanto não se mecaniza as operações não se é livre de conduzir um automóvel. Eu fui mais longe e generalizei numa espécie de lei pedagógica. O aprendiz nunca é livre. Ele só é livre depois de dominar o objecto de aprendizagem e quando domina deixou de ser aprendiz. Essa ideia da liberdade do aluno, liberdade de aprendizagem, é um enunciado ideológico.
Os alunos devem reprovar?
A reprovação não é uma exigência pedagógica porque a tendência das crianças e dos jovens é aprender. Nesse sentido se organizarmos adequadamente o processo educativo não vai haver reprovação.
É preciso estar na escola o dia todo, como estão as crianças portuguesas, para aprender?
Na educação infantil ou primária não acho produtivo as crianças ficarem 8, 9 horas na escola. Mas isso tem muito a ver com as condições sociais do país em causa – no Brasil a maioria das crianças não tem uma secretária, um lugar para estudar em casa.
O que pensa de políticas educativas como as que se estão a implementar em Portugal, em que os alunos vão passar a ter só um professor até ao 6.º ano?
No contexto em que isto está a ser posto há aí um objectivo político e que concorre para esvaziar as escolas do conhecimento elaborado, científico, que é a sua função. A burguesia tende a esvaziar a escola dos conteúdos mais elaborados mediante os quais os trabalhadores poderiam fazer valer os seus direitos, as suas reivindicações.
Defende que a escola que luta pelo socialismo é aquela onde se ensina o saber da classe dominante à classe dominada? Isto coloca em causa quase tudo o que a esquerda tem vindo a defender a respeito da pedagogia
Essa é uma ideia central da proposta pedagógica que formulei. Eu acredito que ela tem base empírica e teórica. Ela tem base empírica a partir daquilo que observamos no dia a dia. Os trabalhadores consideram a escola algo importante, enviam os seus filhos para a escola na expectativa de que lá eles vão aprender. A expectativa deles é que os filhos estudando adquiram condições que eles não tiveram. No livro Escola e Democracia sintetizo assim a fala dos pais: «Se o meu filho não quer aprender o professor tem que fazer com que ele queira.» Essa frase foi interpretada por alguns colegas como sendo a evidência de que eu defendia uma pedagogia autoritária. Eu respondi a esses sectores a dois níveis: primeiro ao nível da linguagem. Eu disse: «Se o meu filho não quer aprender o professor tem que fazer com que ele queira.» Não disse: «Se o meu filho não quer aprender o professor tem que fazer com que ele aprenda, mesmo que não queira.» Isso sim seria impositivo – se ele não quer aprender vai aprender na marra, vou enfiar goela abaixo! O filho, que não tem experiência da vida, das lutas sociais, é compreensível que não perceba, mas o professor tem condições e obrigação de saber a importância do estudo e mostrar para a criança essa importância.
Mas a nível teórico, uma resposta mais elaborada a essa crítica deve começar pela diferença entre o empírico e o concreto. Comummente se usa o termo concreto como sinónimo de empírico, mas em Marx há uma diferença muito clara. No Método da Economia Política vai-se do empírico ao concreto pela mediação do abstracto. O concreto não é o ponto de partida mas o ponto de chegada do conhecimento. Eu traduzo isso na pedagogia da seguinte forma: parte-se do confuso, das primeiras impressões, para uma visão articulada, uma visão de síntese, pela mediação do abstracto, ou seja, da análise.
Quando o professor se defronta com o aluno ele tem que estar frente ao aluno concreto não ao aluno empírico. O aluno empírico é essa criança que está aí, com essas manifestações que eu capto à primeira vista, que eu capto pelos sentidos na aparência. Mas o ser humano é síntese de relações sociais, por isso eu tenho que o encarar enquanto indivíduo concreto e não apenas enquanto indivíduo empírico. Por isso quando me dizem que tenho que ter em conta os interesses dos alunos eu pergunto: do aluno empírico ou do aluno concreto? A escola nova fica no aluno empírico, por isso devemos fazer o que ele tem vontade e cai-se no espontaneísmo. Agora para o aluno concreto – enquanto síntese de relações sociais – é da maior importância passar da visão de senso comum para uma visão articulada, uma visão científica, ter acesso a conteúdos elaborados. Eu tenho que levar em conta os interesses do aluno concreto e portanto deve-se estruturar um ensino que vai além das primeiras impressões, subjectivas, dos desejos subjectivos que esse aluno tem. Mas ele só vai perceber isso na medida em que o professor lhe mostra, fazendo-lhe ver a importância dos conhecimentos para ele assimilar.
Defende que o conhecimento é um meio de produção e que a burguesia se apropriou dele?
O conhecimento elaborado é um produto do desenvolvimento da humanidade, um produto do desenvolvimento social do homem no processo de produção da sua existência. A burguesia apropria-se disto como se apropria dos outros elementos, mas isto não significa que ele seja inerentemente burguês. Trata-se de arrancar do controle dominante aquilo que são produções humanas, neste caso o conhecimento. Quando a burguesia era revolucionária, na passagem do feudalismo para o capitalismo, fez isso, arrancou o conhecimento das mãos estritas do clero e da nobreza.
E só liberta esse conhecimento na estrita medida em que o trabalhador precisa dele para desempenhar o seu papel no processo produtivo?
A minha posição é que considerar que o saber elaborado corresponde aos interesses dominantes, como fazem os reprodutivistas (ver caixa) é sonegar aos trabalhadores um instrumento de luta e nesse sentido manter os trabalhadores subordinados.
Os alunos portugueses são os piores da Europa a Matemática mas dominam a máquina de calcular desde a primeira classe. Têm Inglês e Informática desde o jardim-de-infância. O que significa para si este domínio da tecnologia combinado com uma absoluta ignorância da ciência?
A educação vai-se cada vez mais reduzindo a operações mecânicas. As máquinas da revolução industrial substituíam a força física do homem, hoje há máquinas que também realizam operações intelectuais. Isso deveria ter como função libertar o homem das funções repetitivas, tanto as braçais quanto as intelectuais, para assim libertar o homem para fruir, pensar, elaborar. Nas condições capitalistas a maioria é colocada na posição de só operar. O que possibilitou a existência dessas máquinas, que envolve matemática avançada, fica restrito a um grupo muito pequeno que frequenta universidades de ponta. O projecto de Bolonha ilustra bem isto, destrói toda a experiência da riqueza universitária europeia, que era um contraponto à americana onde eles têm grandes universidades para formar cientistas de ponta e depois uma grande diversificação de universidades de diferentes níveis.
Nós travamos esta luta, entre uma educação ao serviço da ordem dominante e uma educação que seja enriquecedora do homem. É claro que essa outra educação só se pode desenvolver na medida em que está articulada com aqueles que têm interesse nessa nova educação.
Dermeval Saviani, doutor em filosofia da educação, é professor emérito da UNICAMP (São Paulo, Brasil) e autor de grande número de livros, como Escola e Democracia (Ed. Autores Associados, 40.ª edição, 2008), História da Educação, Pedagogia Histórico-Crítica, Intelectual, Educador, Mestre ou Capitalismo, Trabalho e Educação, entre outros.
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O ROUBO DO CHARME DA BOLA: FACES DO FUTEBOL MERCADORIA


Você nunca mais vai ver as convocações da seleção com os mesmos olhos

Por Perrone


O contrato assinado em 2012 e que permite, de certa forma, empresas interferirem na convocação da seleção brasileira, mostra que para treinar a equipe nacional não basta estar entre os melhores técnicos. É preciso também ter estômago para digerir tal intromissão.
Como mostrou reportagem do jornal “O Estado de S.Paulo” neste sábado, a CBF precisa comunicar os grupos International Sports Events (ISE) e Pitch International sobre os jogadores convocados para os amistosos do time nacional com o prazo máximo de 15 dias de antecedência. Se os melhores não estiverem na relação, a CBF pode perder 50% da cota referente ao jogo. Para isso não acontecer precisa provar que os desfalques foram por problemas médicos e substituir os ausentes por atletas que tenham o mesmo potencial de marketing e reputação, além de similar condição técnica.
Ou seja, em tese, para a coisa funcionar o treinador tem que aceitar mudanças em suas convocações determinadas pelos dirigentes para que a entidade não perca dinheiro. E não é levado em conta só o desempenho do jogador em campo.
Será que todos treinadores aceitam esse controle? Difícil. Ainda mais aqueles que estão no auge da carreira e têm apoio popular.
Saber da existência dessa cláusula muda a forma de se enxergar não só as contratações de treinadores da CBF, mas convocações da seleção brasileira. Um astro veterano que não viva seus melhores dias e que volte a vestir a camisa amarela terá, a partir de agora, que conviver com essa desconfiança: será que foi chamado só para atender aos interesses dos parceiros da confederação?
E como ficam jogadores que estão voando em campo e são esquecidos? Acontece direto, mas não costuma dar muito falatório.
Porém, a partir de agora isso deve mudar. O fator contrato passa a fazer parte das análises das listas de atletas chamados. Em outras palavras, você, provavelmente, nunca mais vai ver as convocações da seleção brasileira com os mesmos olhos. Pelo menos eu não vou.