Transparência dos gastos públicos é um dos legados da Copa
Quando o esquadrão canarinho que viria a ser tricampeão do mundo em 1970 embarcou para o México, o cronista Nélson Rodrigues escreveu: "Partiu a Seleção. Terminou o seu exílio".
Com raros intervalos de altivez patriótica, parece haver uma linha de continuidade a trilhar um conjunto de sensações e apreciações de certos estratos sociais que terminam por exilar não só a seleção mas todo o Brasil dentro do próprio Brasil.
Mais uma vez, e quando vamos sediar a 20ª Copa do Mundo, um megaevento disputado pelos países desenvolvidos, motor de desenvolvimento e farol de projeção geopolítica, ecoa naqueles estratos o complexo de vira-lata de que falou o cronista.
Toda a soberba e soberana nação que construímos em cinco séculos é reduzida a deficiências e deformidades, que certamente temos, mas que estão longe de configurar a essência de nossa formação social.
LEGADO


Realizamos obras mais difíceis e importantes que uma Copa, e já fizemos uma em 1950, porém a de 2014 parece objeto preferencial de um derrotismo de várias inspirações – a começar do facciosismo político-partidário que atira no torneio da Fifa para atingir o governo. Críticas podem aperfeiçoar qualquer projeto, mas a diatribe só atende à morbidez das cassandras.
Não é de hoje que viceja no Brasil um pessimismo voluptuoso. As grandes rupturas de nossa história – a guerra aos holandeses, a Independência, a República, a Abolição e a Revolução de 30 – nunca foram perdoadas. Assim como ainda são increpados o Maracanã e Brasília – alvos da "fracassomania", recidiva como um cupim autofágico, apontada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em seu governo.
Daí que também não é ocioso repetir à exaustão o brasilianista americano Stuart Schwartz, professor da Universidade de Yale: o pesquisador americano procura no passado o que deu certo na sua história. Já o historiador brasileiro busca o que deu errado. Não quer estudar o que aconteceu de bom e de ruim, mas mostrar por que o Brasil nunca funcionou bem.
Para ele, a Independência não foi uma independência de verdade. A República também não é uma república. Os liberais não eram liberais, o progresso não era progresso e assim por diante.
E arremata dizendo que esse boicote "vai além de qualquer discussão séria sobre os problemas reais do Brasil". É um modo pessimista de ver o país, definido, a priori, como um lugar onde nada dá certo.
Com todas as nossas deficiências e deformidades históricas, nenhuma delas introduzida ou agravada pela Copa, seremos capazes de usufruir os resultados benfazejos de um evento que gera desenvolvimento em todos os campos.
A festa do futebol inova ou acelera obras de infraestrutura para usufruto perene do povo, traz turistas, melhorias da segurança e telecomunicações, empregos, aumento capilarizado de negócios e consequente incremento do PIB. Também reforça ou introduz em grau inédito mecanismos de transparência e escrutínio dos gastos públicos.
OTIMISMO


O retumbante sucesso popular da Copa das Confederações, com estádios lotados e a torcida cantando com fervor o hino nacional, foi uma prévia da jornada de 2014. Nada menos que dois terços dos brasileiros, segundo a última pesquisa do Datafolha, ainda apoiam a realização do torneio – e pelo andar da carruagem vão volver ao índice próximo de 80% vigente antes da onda revisora das manifestações de junho.
Quanto mais se aproxima a Copa, a ser aberta em São Paulo a 12 de junho, com Brasil e Croácia no Itaquerão, torna-se visível a alegria dos brasileiros em sediar um evento que a cada quatro anos mobiliza o país – não importa onde estiver sendo realizado.
A apropriação da natureza lúdica da competição pelo povo fala mais alto que qualquer tentativa seletiva de politizar nossas antigas deficiências e deformidades que alguns tentam relacionar ao futebol. Ao final, ficará demonstrado que o Brasil sabe realizar uma Copa do Mundo tanto quanto ganhá-la.
Comentário do blogueiro:
Sindrome de "Vira-latas" ou Sindrome de Estolcomo?
Sindrome de "Vira-latas" ou Sindrome de Estolcomo?
O Senhor Aldo |rebelo fala sobre a sindrome de "vira-lata" do Brasileiro, sobre o pessimismo e a fracassomania dos tupiniquins,, fala que "A festa do futebol inova ou acelera obras de infraestrutura para usufruto perene do povo, traz turistas, melhorias da segurança e telecomunicações, empregos, aumento capilarizado de negócios e consequente incremento do PIB.". Mas não fala que a festa do futebol se reduziu a festa do mercado sendo um instumento de acumulação de capital valioso, onde o esporte como direito de cidadania fica relegado a simples produto comercial. Não fala que em várias cidades sedes não fizeram as devidas obras de infraestrutura que as cidades necessitam (como exemplo vc pode pegar o DF, que 95% do recurso público foi para o Estádio Mané Garrincha e apenas 5% para obras de mobilidade urbana). Não fala que não haverá mais turistas, pois a quantidade de turistas será menor que por exemplo na época do carnaval, sem falar que as passagens triplicaram de preço, impedindo um turismo mais cultural externo e interno. Não fala que a tal "melhoria" de segurança se traduz na criminalização dos militantes e dos movimentos sociais, na higienização das cidades, no apartheid social, na remoção de moradias, na violação dos direito humanos, na entrega da soberania nacional a uma máfia corrupta, antidemocrática e gananciosa que existe sob a alcunha de FIFA! e tudo que o ministro fala, somente uma frase indica sobre o título do artigo do Ministro publicado pelo portal Uol? "Também reforça ou introduz em grau inédito mecanismos de transparência e escrutínio dos gastos públicos". Então veremos se isso é verdade, ao analisarmos essa questão mais minuciosamente. Já existem alguns estudos relevantes acompanhando essa questão, e em breve publicarei esses resultados no blog. Mas o que percebemos é que se houve melhora(graças a Lei de Acesso a informação) nos mecanismos de acompanhamento dos gastos via online (Siga Brasil, do Senado; Portal da Transparência, Relatórios de acompanhamento das Matrizes de Responsabilidade das cidades sedes), temos muito a avançar no que se refere ao acesso discriminado dos gastos de forma organizada e referenciada, ao monopólio das empresas aptas nas licitações, aos superfaturamento das obras e se tratando de maioria escrachada de dinheiro público, da participação efetiva da sociedade civil nos processos decisórios na aplicação dos recursos orçamentários. Enfim, Senhor ministro, antes de falar que o povo não aposta no sucesso do país e do se realizar um Megaevento, você deveria se perguntar na capacidade deste país e de seus políticos em garantir os direitos de cidadania e as necessidades humanas do povo brasileiro. O que se está em discussão não é a capacidade de fazer um bom evento, mas na capacidade de olhar para a desigualdade que assola o país e agir no sentido de ataca-las. A capacidade de ver se realmente a Copa vai trazer a melhoria das condições de vida do povo brasileiro e vou trazer apenas a saúde financeira dos bolsos dos megaempresários. Como disse o professor Lino Castellani, no Brasil, a política esportiva brasileira sofrem da Síndrome de Estolcomo, onde o sequestrado se apaixona e cria afetividade com o sequestrador. Pois é, a FIFA é o sequestrador e você e a política esportiva brasileira são s sequestrados.
#OPovoBrasileiroNãoMereceIsso
